O podcast UOL Prime, apresentado por José Roberto de Toledo, traz nesta quinta-feira (18) bastidores da reportagem da jornalista Talyta Vespa sobre o vício em zolpidem, hipnótico para dormir, que atormenta médicos pelo Brasil.
Você pode ouvir no arquivo acima a íntegra do episódio, baseado na reportagem “Zolpidem: como brasileiros se viciaram na droga do sono”, publicada no UOL Prime — seção com notícias exclusivas e o melhor do jornalismo do UOL.
A reportagem trouxe dados da Anvisa mostrando um crescimento de 66,8% de 2018 a 2022 nas vendas do zolpidem. A repórter ouviu especialistas renomados que já chamam de epidemia o consumo exacerbado do hipnótico.
“Antes, [o uso] era um pouco mais controlado. As pessoas tomavam para casos mais pontuais de insônia. Mas, na pandemia, os casos de insônia aumentaram muito, e os médicos foram prescrevendo zolpidem indiscriminadamente”, diz a jornalista.
Talyta explica que a ideia da reportagem surgiu sobre sua experiência pessoal com o zolpidem, a partir de uma automedicação. Os pais dela passaram a tomar zolpidem na pandemia para tratar crises de insônia, e ela decidiu experimentar.
“O zolpidem é uma loucura. Antes de te derrubar, ele te dá uma ‘brisa'”, afirma.
A bula recomenda que o medicamento seja ingerido imediatamente antes de a pessoa deitar e que ela feche os olhos logo em seguida.
“Eu gostava de tomar zolpidem e jogar Mário Kart no celular. As cores ficavam vívidas. Eu ficava doidona e depois dormia”, conta a repórter, que um dia começou a ver vultos no quarto. “Precisei chamar minha mãe para dormir comigo.”
Ela parou de tomar zolpidem. Os pais também abandonaram o medicamento por considerarem “muito perigoso”. “As pessoas não têm noção da gravidade do zolpidem”, conta.
A Anvisa, diz ela, se baseia na bula para afirmar que não precisa mudar a tarja do medicamento de vermelha para preta.
A bula do zolpidem recomenda que o medicamento seja utilizado para casos pontuais de insônia e por no máximo três semanas. Mas há pessoas usando por vinte anos. Há quem relate tomar 90 comprimidos por dia, e não um, como recomendado.
O medicamento se popularizou no X (antigo Twitter) por causar um efeito desinibitório antes de derrubar o usuário, o que faz com que pessoas usem o hipnótico de forma recreativa, aumentando os casos de vício.
“O zolpidem funciona como um liga-desliga. Se você ‘aperta o botão’, ele desliga e você não fecha seu olho, seu cérebro vai estar meio desligado mesmo acordado. Você vai começar a fazer coisas sem saber que está fazendo”, diz a repórter.
Foi o caso de Lianara Albring, 30, que começou a tomar zolpidem para dormir por recomendação de um médico clínico geral e passou a usar o hipnótico em encontros com amigos e associá-lo ao álcool.
Em uma dessas brincadeiras perigosas, perdeu o controle e tentou cortar o pescoço.
“Parece que a gente está demonizando o zolpidem, mas é um remédio eficaz para quem tem crises pontuais de insônia. (…) O problema é que tanto médicos como pacientes prescrevem e usam indiscriminadamente”, conclui a jornalista.
O podcast UOL Prime é publicado às quintas-feiras no YouTube do UOL Prime, Spotify, Apple Podcasts, Amazon Music, Deezer e em todas as plataformas de podcast.