Na virada do século 20, a expectativa de vida era de 47 anos nos Estados Unidos. Atualmente, os avanços da medicina, como vacinas e antibióticos, e as iniciativas de saúde pública a aumentaram para 77 anos – e 73 anos no mundo. (No Brasil, em 1940, a expectativa de vida era de 45,5 anos. Em 2022, saltou para 75,5 anos)
Embora as condições de saúde e as barreiras sistêmicas, como as desigualdades socioeconômicas e as condições ambientais, influenciem a expectativa de vida, os pesquisadores estão descobrindo que, por meio de modificações no estilo de vida e da medicina de precisão, existem maneiras de combater os mecanismos por trás do envelhecimento para ajudar as pessoas a viverem ainda mais e com mais saúde.
“A medicina da longevidade saudável não é mais ficção científica”, disse Andrea Maier, professora de medicina e envelhecimento funcional da Universidade Nacional de Cingapura e presidente fundadora da Sociedade de Medicina da Longevidade Saudável, à Fortune durante a Conferência de Investidores em Longevidade em Gstaad, Suíça, no mês passado. “Sabemos por que envelhecemos. E sabemos como intervir”.
A ideia de que desempenhamos um papel na forma como envelhecemos levou a uma proliferação de biohackers, ou otimistas da longevidade, confiantes de que viverão 150 anos – ou até mais – porque estão dispostos a experimentar as intervenções mais recentes para otimizar a saúde. Kayla Barnes, CEO da LYV Wellness, uma clínica de longevidade com sede em Los Angeles, disse anteriormente à Fortune que espera viver 150 anos com saúde ao lado de seu marido. Já Bryan Johnson, empresário que se tornou biohacker, não tem uma meta de idade, mas quer pregar seu lema “não morra” pelo maior tempo possível.
Mas quanto tempo será possível viver, de acordo com a ciência disponível?
Quanto tempo podemos esperar viver?
As pessoas com menos de 50 anos, que terão mais tempo para aproveitar as vantagens das novas pesquisas, terapias e intervenções, provavelmente podem esperar viver até os 100 anos, calcula Evelyne Bischof, médica de medicina interna, oncologista e vice-presidente da Sociedade de Medicina da Longevidade Saudável.
Alina Su, pesquisadora de envelhecimento no Conboy Laboratory da UC Berkeley e doutoranda em biomedicina em Harvard, está ainda mais esperançosa.
“Viver bem além dos 100 anos – potencialmente até mais de 120 anos – não é só um sonho. Pode ser realidade para quem leva a sério a otimização da saúde”, diz Su, cofundadora da Generation Lab, uma empresa de medicina de precisão. “Com o ritmo acelerado da inovação na pesquisa antienvelhecimento, estamos vendo novas terapias, edição de genes, medicina personalizada e outras coisas que irão ampliar os limites da vida humana”.
Um dos maiores geneticistas do mundo, Nir Barzilai, diretor do Instituto de Pesquisa sobre o Envelhecimento no Albert Einstein College of Medicine, disse à Fortune que, embora não possa prever a potencial longevidade da sociedade, a máxima expectativa de vida humana atualmente está em torno de 115 anos (a mulher considerada a pessoa mais velha do mundo morreu aos 122 anos em 1997).
Barzilai explica que a expansão dessa expectativa de vida depende da eficácia das pesquisas sobre envelhecimento que surgirão nas próximas décadas.
“O envelhecimento gera doenças relacionadas à idade. Então é importante parar de envelhecer e, portanto, queremos gastar nosso tempo tratando a saúde, em vez de gastar nosso tempo tratando uma doença”, diz Barzilai, que também é membro do conselho da Federação Americana de Pesquisa sobre o Envelhecimento (AFAR, na sigla em inglês). “Sabemos que podemos desacelerar o envelhecimento (…). Tudo vai depender do financiamento das pesquisas”. Ele enfatiza que educar as pessoas sobre as formas de intervenção fará a diferença no prolongamento da vida.
Barzilai diz que, para viver mais de 100 anos hoje, é preciso seguir as diretrizes básicas sobre exercícios, nutrição e controle do estresse e, ao mesmo tempo, ficar de olho nos avanços da ciência da longevidade – que ele acredita ser uma combinação de medicina de precisão, intervenções de IA e geroterapêutica ou medicamentos atacar os processos subjacentes do envelhecimento.
Ainda assim, Barzilai, Evelyne e Andrea, que estão trabalhando para criar padrões no campo da medicina da longevidade, afirmam que o mais importante não é quanto você vive, mas como você vive.
“A questão é: vamos viver até os 100 anos com boa saúde, ou os últimos 20% terão um declínio significativo na função?”, questiona Evelyne, que também falou na Conferência de Investidores em Longevidade. O maior imperativo é fechar a lacuna entre saúde e expectativa de vida, acrescenta ela.
Os otimizadores de saúde
As pessoas que querem prolongar substancialmente a vida e fechar a lacuna entre saúde e expectativa de vida devem tratar seu corpo como um “esporte de ponta”, diz Andrea. “Eu realmente acho que não devemos tratar nosso corpo como uma fotografia, mas sim como uma história, e a história só pode ser escrita se você tiver mais palavras, o que significa que você deve estar sempre examinando seu corpo”, diz ela.
A especialista elogia o crescente campo da geromedicina de precisão (terapêutica para combater o envelhecimento segundo os biomarcadores e a composição genética da pessoa), que exige testes e rastreamento para influenciar os hábitos. Entre os tipos mais comuns de rastreamento estão o uso de um monitor de glicose, um rastreador de sono e um monitor de atividade.
No momento, a onda de prolongar a vida se restringe a quem tem tempo e recursos financeiros para pagar do próprio bolso por exames sofisticados, dispositivos vestíveis e clínicas de longevidade por assinatura.
“Para a população que hoje tem menos de 50 anos, a chave está no quanto estão dispostas a investir na sua saúde agora. Quanto mais proativas forem essas pessoas, mais anos elas provavelmente vão acrescentar à vida”, informa Alina. “Essencialmente, estamos entrando numa era em que as escolhas pessoais de saúde podem levar a resultados muito diferentes. A decisão de otimizar a saúde hoje pode significar a diferença entre uma expectativa de vida padrão e uma vida prolongada e vibrante muito além da barreira dos 100 anos”.
Matthew Pywell, fundador da Apex Medical Academy, que educa profissionais de saúde sobre cuidados de saúde preventivos e envelhecimento saudável, diz que, embora saibamos que é possível atingir a marca de 120 anos como espécie, a questão será como fornecer intervenções de longevidade para as massas, e não apenas para o 1%.
Aqueles que estão na vanguarda da equidade da longevidade estão tentando colocar as inovações do envelhecimento saudável nos sistemas de saúde e encontrar as pessoas onde elas estão – embora esteja claro que há um longo caminho a percorrer para garantir que a medicina da longevidade não exacerbe as desigualdades existentes.
“Muitas das clínicas são particulares. Agora entendemos que temos de formar não apenas os médicos, mas também todos os outros profissionais de saúde. Temos de educar os leigos e, em seguida, trazer esse novo modelo de medicina para o atendimento clínico para realmente mudar a trajetória da saúde [de mais pessoas]”, conclui Andrea. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU