Nathalie Moellhausen, principal nome da esgrima brasileira, passou mal durante uma disputa neste sábado, 27, contra a canadense, Ruien Xiao. Antes da estreia nos Jogos Olímpicos de Paris, ela havia informado que esteve hospitalizada, mas obteve liberação da equipe médica para competir. Conforme mostrou o Estadão, a atleta descobriu um tumor benigno no cóccix em fevereiro e passará por cirurgia na semana que vem.
Segundo o oncologista Leandro Veloso, da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, tumor é termo usado para se referir a qualquer nódulo, alteração ou lesão que “cresce no organismo”. É uma definição que cabe tanto para os benignos, que não são cancerosos, quanto para os malignos, chamados de câncer ou neoplasia maligna.
O que diferencia um do outro? “Conforme cresce, o tumor maligno tem a capacidade de invadir outros tecidos e órgãos, e de se espalhar pelo organismo e dar metástases (tumores secundários)”, explica Veloso. Segundo ele, o benigno costuma crescer mais devagar, e esse crescimento ocorre no local onde surgiu.
A maioria dos tumores benignos são descobertos incidentalmente, afirma ele. Ou seja, o paciente não apresenta qualquer sintoma, vai fazer um exame de imagem e um nódulo é observado.
No entanto, ele pode comprimir estruturas importantes e causar sintomas. “Por exemplo, quando cresce perto da coluna ou perto de lugares próximos a raízes nervosas, a músculo ou a tendão, pode provocar dor e sensação de choque ou de desconforto”, diz Veloso.
“Se pensamos em atletas de competição, pessoas que necessitam muito dessa musculatura ou das articulações, qualquer tumor nesses locais podem provocar muita irritação e dor”, acrescenta o médico.
Nesse sentido, ele ressalta que o local onde está o tumor benigno pode ser mais importante do que o tamanho que ele tem.
Maligno ou benigno?
Veloso comenta que alguns tipos de tumores podem ser identificados como benignos apenas por exame de imagem, como ressonância e tomografia. Mas em alguns casos, principalmente quando ainda na fase inicial, pode ser necessária uma biópsia (retirada de um fragmento dele para análise).
O cóccix
Faria explica que o cóccix é um conjunto de pequenos ossos que estão fundidos/unidos logo abaixo do sacro, osso que fica na base da coluna e que faz a comunicação entre a bacia e a coluna.
“É um osso que não é de grande importância para o organismo. Não traz uma funcionalidade muito importante igual ao sacro ou ao restante da coluna, mas está próximo de uma região importante, principalmente para um atleta, para poder se locomover e movimentar os membros e o quadril”, explica Veloso.
Como surgem os tumores no cóccix?
Esses tumores costumam aparecer no desenvolvimento da coluna, de acordo com o ortopedista e oncologista Reynaldo Jesus-Garcia, do Hospital Israelita Albert Einstein. “Ficam resíduos de células do desenvolvimento ali que não se transformam em células adultas. Em uma idade qualquer, elas podem se desenvolver e crescer, mas crescem muito pouco. Eles não têm um crescimento como um câncer, é uma coisa limitada”, diz ele, também professor da pós-graduação do Einstein.
Complicações
Segundo Veloso, quando falamos em cóccix, falamos em uma região ampla, porque por ali há vários grupamentos musculares importantes e também de nervos (inervações) — não principais, mas que podem provocar dor ao serem comprimidas. É por isso que é difícil falar especificamente do caso de Nathalie, pois seria necessário entender onde exatamente o tumor está e como surgiu.
A depender da localização dele e da gravidade, esse tumor benigno pode causar também algumas repercussões neurológicas, como:
- Fraqueza;
- Alteração ou perda de sensibilidade;
- Dificuldades na marcha (caminhada).
Caso o tumor esteja no osso, afirma Faria, há risco também de fratura.
Tratamento de tumores benignos: quando a cirurgia pode ser necessária?
Segundo Veloso, para a maioria dos tumores benignos, em especial aqueles descobertos por acaso, será preciso apenas acompanhamento. O tratamento se faz necessário quando o paciente apresenta algum sintoma.
Inicialmente, explica, o objetivo da terapia pode ser apenas controlar esse sintoma. Caso não resolva, uma cirurgia para remoção se torna necessária. Quando afeta “regiões nobres” e coloca estruturas próximas a ele em risco, o procedimento cirúrgico também é recomendado.
“Pela localização do tumor benigno, às vezes, ele pode até se comportar como maligno. Não por progredir em metástase, mas pelo risco de morte do paciente”, diz Veloso. Um exemplo, continua, é quando ele está no cérebro.
Cirurgias no cóccix, diz Jesus-Garcia, são muito difíceis, por causa da grande quantidade de nervos dessa região. “A pessoa pode viver muito bem sem o cóccix, não tem nenhum problema maior. O grande problema da cirurgia é que tem de seccionar (cortar) alguns nervos que, às vezes, deixam uma dor constante e definitiva.”