A decisão da executiva municipal do PSDB de São Paulo de descartar o apoio ao prefeito Ricardo Nunes (MDB) pavimentou a coligação do partido com Tabata Amaral (PSB), embora ainda haja uma terceira opção, a candidatura própria.
Na prática, porém, boa parte dos filiados ao PSDB, além de vereadores e deputados, vão fazer campanha para Nunes, a quem preferem por ter dado continuidade à gestão de Bruno Covas (PSDB) e por estarem abrigados em cargos na máquina municipal.
Como mostrou o Painel, o PSDB deve ficar sem representação na Câmara Municipal. A crise na legenda levou os oito vereadores da bancada tucana a pedirem desfiliação – eles defendem que o partido apoie Nunes.
Se hoje Tabata busca a coligação com o PSDB, em 2020, na disputa entre Covas e Guilherme Boulos (Psol), que concorre novamente neste ano, a deputada decidiu apoiar Boulos e não o tucano. Integrantes do partido que resistem a ela têm dito que a deputada virou as costas a Covas há quatro anos e, por isso, não faz sentido apoiá-la agora.
Em nota divulgada na época, Tabata, que havia votado em Marina Helou (Rede) no primeiro turno, disse não se alinhar inteiramente nem com Covas nem com Boulos, e elogiou ambos: “Em tempos de grande polarização e ameaças autoritárias, é um alívio ver dois candidatos jovens e comprometidos com a democracia disputando o segundo turno”.
A deputada justificou sua escolha por Boulos afirmando ser contrária ao vice de Covas, Ricardo Nunes.
Como Tabata aparece atrás dos concorrentes, marcando 8% no último Datafolha, ante 30% de Boulos e 29% de Nunes, o posicionamento dela em 2020 reforçou a expectativa de que a deputada se alie ao Psol no segundo turno deste ano caso esse cenário se mantenha.
“O vice-candidato de Bruno Covas, Ricardo Nunes, acusado de violência contra a mulher, com suspeita de corrupção e com um histórico de homofobia, é a antítese de tudo o que acredito. Não podemos legitimar no poder alguém que não respeita direitos humanos fundamentais e demonstra não ter comprometimento com a ética. Isso, para mim, é inegociável”, escreveu ela em 2020.
Procurada pela reportagem, a equipe de Tabata diz não haver contradição entre a decisão de 2020 e a de agora em relação ao PSDB. Em nota, voltou a afirmar que a escolha por Boulos foi em razão de Nunes “representar a antítese” do que Tabata acredita.
“O posicionamento em 2020 foi, sobretudo, contra tudo aquilo que não representa o mandato de Tabata Amaral.”
Naquele momento, Tabata já enfatizava pontos centrais do seu programa, como prioridade às periferias, promoção de justiça social e superação de desigualdades.
Agora, apesar da escolha pelo adversário em 2020, já há sinais da aproximação entre Tabata e a cúpula do PSDB. A ponte é construída por Orlando Faria, ex-secretário municipal de Covas, que segue no PSDB e passou a integrar a pré-campanha de Tabata – e, por isso, deixou o comando do partido na capital.
O novo presidente, Aníbal, que foi nomeado pelo presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, no fim de fevereiro, admira Tabata. Tucanos afirmam que o objetivo do ex-senador é ocupar o posto de vice na chapa dela.
No último dia 22, dos 15 integrantes da executiva municipal, apenas 2 votaram pela coligação com o prefeito. Aníbal critica a aliança entre Nunes e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a quem chama de golpista.
Parte dos tucanos vê vantagens em apoiar Tabata. Na coligação com ela, o PSDB teria influência no governo, espaço na propaganda e poderia indicar um candidato a vice – posto que, na aliança de Nunes, deve ficar com o PL e ser indicado por Bolsonaro ou pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Tabata, por sua vez, ganharia ao menos um partido aliado, já que agora conta apenas com o PSB. Isso lhe ajudaria a aumentar seu tempo de propaganda na TV, que ainda assim seria bem menor do que o de Nunes.
Para o prefeito, que já tem o apoio de ao menos 10 partidos, o PSDB nem sequer contaria no tempo de TV, pois não está entre as seis maiores legendas da coligação.
Tucanos que defendem um acordo com a deputada dizem que o PSDB daria mais envergadura à sua candidatura, que ela se parece com Covas e representa a ideologia tucana, de centro, liberal na economia, mas com a busca de garantias sociais. Ao mesmo tempo, veem em Nunes uma gestão apenas eleitoreira.
Da parte de Tabata, a eventual aliança com o PSDB atrapalha o acordo com o apresentador José Luiz Datena (PSB), que já foi convidado para ser vice. Aliados da deputada dizem acreditar que Datena estaria disposto a ceder seu lugar a um tucano.
O acerto PSB-PSDB em São Paulo atinge ainda a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, quadro importante do PSDB e que enfrenta em seu Estado justamente a oposição do PSB de João Campos, prefeito do Recife e namorado de Tabata.
Com a meta de alcançar protagonismo e ter um palanque para o presidenciável Eduardo Leite (PSDB-RS) em São Paulo, o PSDB também cogita uma candidatura própria, mas esbarra na falta de nomes competitivos. A janela para novas filiações se encerra na próxima sexta-feira (5), o que aumenta a pressão.
O ex-secretário e ex-vereador Andrea Matarazzo (PSD), que concorreu em 2020, tem conversado com Aníbal sobre a possibilidade de migrar para o PSDB para ser candidato, desde que tenha apoio e incentivo entre os tucanos.
Outros nomes também estão no páreo, como o do ex-vereador Mário Covas Neto (Podemos).
Qualquer opção, no entanto, vai enfrentar forte oposição da ala que trabalha por Nunes, que inclusive divulgou um manifesto de apoio ao prefeito e conta com o aval de Tomás Covas. O Cidadania, partido que forma federação com PSDB, também defende a coligação com o MDB.
Para essa ala, a aliança com Bolsonaro tem sido usada como desculpa pela cúpula do PSDB e a escolha por Tabata, representa, no fim da contas, uma escolha por Boulos, algo que não faria sentido para os tucanos, que buscam se reafirmar como oposição a Lula (PT).