Você já viu um pato em um lago, certo? De cima, parece que ele desliza e navega sem esforço, passando uma imagem de serenidade e equilíbrio. No entanto, sob a superfície tranquila, existe uma realidade diferente: escondidos embaixo d’água, os pés do pato estão envolvidos em uma atividade frenética, remando furiosamente para se manterem à tona.
Esse contraste entre aparente facilidade e esforço oculto constitui a base de um fenômeno psicológico conhecido como “síndrome do pato flutuante”. O conceito se refere à disparidade entre as aparências e a realidade — assim como os esforços ocultos que os patos fazem — e, segundo pesquisadores, pode impactar profundamente a saúde mental e o bem-estar.
Em sua essência, a síndrome do pato flutuante se refere a como as pessoas escondem seus estressores e lutas internas atrás de um verniz de sucesso. Cunhado pela Universidade de Stanford, o termo ganhou destaque nos círculos acadêmicos antes de ressoar mais amplamente como uma metáfora para as pressões e expectativas da sociedade moderna.
Prevalente entre indivíduos de alto desempenho, como os melhores estudantes de instituições de elite, a síndrome do pato flutuante reflete o duplo desafio de se destacar academicamente ou profissionalmente mantendo, ao mesmo tempo, uma aparência de proficiência sem sofrimento, sem grandes renúncias.
Assim como os movimentos graciosos do pato escondem o esforço intenso que ele faz para se impulsionar para frente, os afetados pela síndrome do pato flutuante se esforçam para apresentar uma imagem de sucesso e realização enquanto lutam contra o estresse interno. Por baixo do exterior calmo, existe ansiedade, insegurança e a busca incansável pela realização.
A vida moderna exige um malabarismo constante de responsabilidades em vários domínios – escola, trabalho, família e lazer. De acordo com pesquisadores, a forma como distribuímos o nosso tempo e energia entre esses domínios, as atividades que realizamos e as recompensas que colhemos têm um impacto profundo no nosso bem-estar físico e mental.
Essa alocação dinâmica de recursos contribui muitas vezes para o desenvolvimento da síndrome do pato flutuante, em que os indivíduos se esforçam para se destacar em múltiplas áreas, ao mesmo tempo que escondem as suas lutas com uma fachada de competência e sucesso. Segundo os autores, esse malabarismo pode fazer com que o trabalho árduo e as lutas que enfrentamos passem despercebidos, levando a um desequilíbrio entre o esforço que investimos e as recompensas que colhemos.
Simplificando, cada um de nós está tentando ao máximo nadar nas águas do sucesso, mas muitos não têm um mapa claro. Buscamos insights e orientações de outras pessoas que admiramos, no entanto, por mais que aprendamos muito, nunca saberemos verdadeiramente o quão difícil é a jornada para os outros. Essa desconexão entre a percepção e a realidade contribui para a pressão para parecer bem-sucedido sem muito esforço.
Bem como atores em cena, nos esforçamos para desempenhar nossos papéis com graça, escondendo a tensão que ocorre nos bastidores. Mas essa “farsa” tem um custo. Quando subestimamos os desafios do sucesso, ficamos sobrecarregados em uma infinidade de tarefas, como malabaristas tentando manter muitas bolas no ar. Embora essa estratégia possa resultar em vitórias aparentes, acaba por nos deixar com muitas expectativas não realizadas.
Muitas vezes podemos nos sentir pressionados a passar uma imagem de competência e força, mesmo quando enfrentamos turbulências internas. No entanto, essa tendência de minimizar as dificuldades sublinha uma norma social mais ampla, na qual a vulnerabilidade é frequentemente estigmatizada e escondida.
Ao tentarmos manter uma aparência competente, podemos, sem saber, esconder nosso stress e sofrimento, afastando-os da vista dos outros. Esta internalização da luta não só acrescenta peso aos nossos fardos, mas também nos isola de potenciais fontes de apoio. Isso também faz com que acreditemos que devemos enfrentar os nossos desafios sozinhos, sem precisar da ajuda de outros.
No entanto, o auto-isolamento tem um custo. Ao nos fecharmos à possibilidade de procurar apoio, acabamos nos bloqueando e dificultando a nossa capacidade de lidar com a situação de forma eficaz. A nossa relutância em reconhecer as nossas vulnerabilidades perpetua um ciclo de luta oculta e, simultaneamente, nos nega a oportunidade de conexão autêntica com os outros.
O ato de esconder sinais visíveis de luta tem implicações profundas para o nosso bem-estar. A ilusão do sucesso sem esforço mascara uma verdade mais profunda: que a verdadeira realização muitas vezes exige que abracemos o esforço feito por baixo dos panos. Ao aceitarmos as nossas vulnerabilidades e reconhecermos estes esforços, promovemos uma cultura de transparência e compaixão – uma cultura em que a procura de ajuda não é vista como um sinal de fraqueza, mas sim como um corajoso passo adiante.
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Getty Images #1: Pare de tentar ser perfeito
Costuma-se dizer que ‘o perfeito é inimigo do bom’. Embora haja benefícios em ter objetivos sólidos e estabelecer padrões elevados para nós mesmos, a pressão de precisar que tudo corra perfeitamente pode facilmente nos deixar exaustos, indignos, arrependidos e insatisfeitos.
Uma pesquisa publicada no Journal of Research in Personality identifica três formas de perfeccionismo a serem observadas:
– Perfeccionismo auto-orientado: a tendência de exigir perfeição de nós mesmos;
– Perfeccionismo orientado para os outros: a tendência de exigir perfeição de outras pessoas;
– Perfeccionismo socialmente prescrito: a tendência de acreditar que outras pessoas exigem que você seja perfeito.
Existem maneiras melhores de manter você e as pessoas ao seu redor motivadas, além de tentar atingir um padrão de perfeição. Abandonar os ideais perfeccionistas aliviará sua carga mental e permitirá que você aprecie o simples prazer de ‘fazer as coisas’, em vez de sentir a pressão que vem com a necessidade de ‘fazer bem as coisas’.
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Getty Images # 2: Seja o seu eu mais social
Um pouco de tempo sozinho, com paz e sossego, é sempre algo a ser valorizado — mas com ênfase em “um pouco”. Uma pesquisa mostrou que socializar com colegas é uma maneira infalível de melhorar seu humor. Aumentar a quantidade de interação social pode até beneficiar pessoas mais introvertidas ou com altos níveis de ansiedade social.
Por exemplo, um novo estudo publicado no Journal of Anxiety Disorders descobriu que os tratamentos para transtorno de ansiedade social devem se concentrar em métodos para incentivar o envolvimento social entre pessoas que tentam evitar isso.
“O contato de qualidade com outras pessoas serve como uma estratégia confiável para melhorar o humor”, dizem os pesquisadores, liderados por Fallon Goodman, da Universidade do Sul da Flórida.
Outra pesquisa sugere que os extrovertidos têm vantagem quando se trata de autocuidado justamente por causa da tendência de passar o tempo socializando.
“Alguém com alto nível de extroversão provavelmente tem uma ampla rede social, é mais propenso a iniciar contato com outras pessoas, passar o tempo de lazer socializando e aceitar convites para eventos sociais”, dizem os autores do estudo. “Tudo isso pode levar a situações que satisfaçam nossa necessidade de relacionamento.”
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Getty Images #3: Perdoe alguém (talvez até você mesmo)
É da natureza humana querer responsabilizar as pessoas pelas coisas que fizeram. Afinal, é uma das maneiras pelas quais nós, como sociedade, incentivamos a cooperação, a responsabilidade e o comportamento produtivo.
No entanto, o peso de se apegar a todas as transgressões que as pessoas cometeram contra você no passado – ou até mesmo culpar a nós mesmos – pode ter grandes consequências psicológicas. E, de acordo com um novo estudo publicado no Journal of Personality and Social Psychology, uma dessas consequências é sentir-se desumanizado.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores liderados por Karina Schumann, da Universidade de Pittsburgh, dividiram os participantes da pesquisa em dois grupos. Um grupo teve de se imaginar sendo ofendido por um colega e depois perdoando-o, enquanto o outro grupo teve de se imaginar sendo ofendido e se vingando.
Eles descobriram que os participantes que imaginavam se vingar do colega permaneciam em um estado desumanizado (por exemplo, classificando-se como se sentindo menos refinados, emocionais e inteligentes, e mais superficiais, frios e animalescos) em relação àqueles que perdoavam o colega.
“Esse padrão de resultados sugere que o perdão pode reumanizar as vítimas depois que seu senso de humanidade foi prejudicado por uma ofensa”, diz Schumann.
Alguns dos outros benefícios do perdão cientificamente observados incluem: diminuição da ansiedade e estresse, ser menos hostil nas interações cotidianas, saúde mental melhorada e autoestima melhorada.
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Getty Images Conclusão
A capacidade de transformar um dia ruim em um bom não é um superpoder — ela está bem ao nosso alcance. A nova ciência sugere que abandonar os padrões perfeccionistas, fazer um plano para ser social e praticar o perdão são três coisas que podemos fazer para combater o humor negativo.
#1: Pare de tentar ser perfeito
Costuma-se dizer que ‘o perfeito é inimigo do bom’. Embora haja benefícios em ter objetivos sólidos e estabelecer padrões elevados para nós mesmos, a pressão de precisar que tudo corra perfeitamente pode facilmente nos deixar exaustos, indignos, arrependidos e insatisfeitos.
Uma pesquisa publicada no Journal of Research in Personality identifica três formas de perfeccionismo a serem observadas:
– Perfeccionismo auto-orientado: a tendência de exigir perfeição de nós mesmos;
– Perfeccionismo orientado para os outros: a tendência de exigir perfeição de outras pessoas;
– Perfeccionismo socialmente prescrito: a tendência de acreditar que outras pessoas exigem que você seja perfeito.
Existem maneiras melhores de manter você e as pessoas ao seu redor motivadas, além de tentar atingir um padrão de perfeição. Abandonar os ideais perfeccionistas aliviará sua carga mental e permitirá que você aprecie o simples prazer de ‘fazer as coisas’, em vez de sentir a pressão que vem com a necessidade de ‘fazer bem as coisas’.
*Mark Travers é colaborador da Forbes USA. Ele é um psicólogo americano formado pela Cornell University e pela University of Colorado em Boulder.