O presidente da Itaúsa (holding controladora do Itaú), Alfredo Setubal, elogiou o Nubank, que com seus quase 80 milhões de clientes no Brasil, e alto nível de principalidade, é um “player competente e que veio para ficar. “É um banco bastante consolidado e que com certeza vai entrar em outros segmentos de produtos financeiros, não tenho dúvidas disso. Ele tem escala, resultados crescentes. Dos bancos digitais, me parece o mais bem posicionado do ponto de vista tecnológico, de estratégia, capital, depósito.”
Durante teleconferência com analistas sobre os resultados da Itaúsa no quarto trimestre, Setubal comentou que o Itaú, do qual é membro do conselho de administração, fez investimentos em tecnologia mais rapidamente, o que trouxe vantagem sobre rivais tradicionais. “Entre os incumbentes tem instituições muito sólidas, bem geridas, que circunstancialmente passam por dificuldade maior de resultado, ligado à inadimplência do crédito. O Itaú foi mais cauteloso”, comentou, sem citar nomes de concorrentes. Bradesco e Santander foram os que mais sofreram no atual ciclo de piora da inadimplência, entre os grandes bancos.
Com essa vantagem sobre os rivais tradicionais, Setubal disse que o Itaú está de olhos nos players digitais, alguns dos quais fazem um trabalho muito bom e estão expandindo a oferta de produtos. “Hoje, em relação aos bancos tradiconais, estamos melhor posicionados – mas eles vão reagir também, já estão reagindo – e não podemos deixar de reconhecer o bom trabalho dos bancos digitais. Então temos de ficar atentos a isso. A estratégia do Itaú é continuar sendo o maior banco do país e acho que, com os investimentos que fizemos, conseguimos tirar um pouco da diferença para os bancos digitais”.
Durante a teleconferência com analistas, Setubal afirmou também que a ideia é que o Itaú vá reduzindo sua fatia na XP, atualmente de cerca de 7,5%, mas que não há pressa.
“Essa participação já foi de quase 12%, o banco vendeu cerca de 2%, depois mais 2%, e agora está em torno de 7,5%. A ideia é ir reduzindo, mas sem pressa, com o preço adequado. Até porque o Itaú não tem a mesma necessidade de caixa da Itaúsa, que fez essa venda de maneira um pouco mais acelerada”, comentou em entrevista coletiva.
Segundo ele, o Itaú será cauteloso com essas vendas e isso deve acontecer no longo prazo. “Até porque a XP vai bem, tem crescido, teve resultado ok, então não tem urgência”.
Sobre a possibilidade de Aegea participar do leilão de privatização da Sabesp, ele lembrou que a Itaúsa tem uma fatia minoritária na companhia, de cerca de 12%. “A Sabesp é um pouco maior, se não do mesmo tamanho da Aegea. A Aegea tem planos de investimento, uma série de compromissos assumidos. Sei que estão estudando [participar do leilão], mas não sei exatamente com qual apetite.”
Em relação ao cenário macro, Setubal comentou que os juros ainda são elevados e, assim, o custo de oportunidade para novos investimentos é alto. No contexto local, ele apontou que a questão fiscal é sempre algo acompanhado pelos investidores. Já o estrangeiro acaba olhando também para outros fatores. “Para o investidor estrangeiro, essa política de interferência nas estatais, de tentativa de interferência em uma companhia como a Vale, não ajuda em nada na tomada de decisão do chairman de um conselho de uma empresa. Evidentemente eles vão considerar isso nas suas análises de risco.”
Ele apontou ainda que o Brasil tem um judiciário lento e um governo atual mais “estatista”. “É um governo com um direcionamento maior de investimentos para o setor público, e tudo isso é levado em consideração pelo conselho de uma empresa internacional que pode investir em qualquer lugar do mundo.”