Sem repelente em meio a surto recorde de dengue, Argentina recebe doação do produto do México | Mundo

O Diretório
por O Diretório
5 Leitura mínima

Diante de um surto histórico de dengue e de prateleiras sem um repelente sequer para vender, a Argentina recebeu nesta segunda-feira (8) o primeiro lote de doações internacionais do produto que virou tema invariável de conversas entre os moradores locais.

Os itens, no entanto, não irão para as prateleiras para serem comercializados. A distribuição dos repelentes será organizada pela Cáritas argentina, organização humanitária internacional ligada à Igreja Católica e com forte atuação entre os mais pobres, os migrantes e os refugiados.

Em comunicado, a organização disse que suas equipes comunitárias distribuirão os produtos às famílias mais necessitadas em todo o país. Somente em zonas mais centrais, como a província de Buenos Aires, ao menos mais de 20 mil famílias seriam impactadas.

O último boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde local revela que o atual surto da doença, iniciado em dezembro e com ápice em março, conta com quase 233 mil casos de dengue.

São 495 casos da doença a cada 100 mil habitantes na Argentina — para comparação, no Brasil são mais de 1.300 casos por 100 mil pessoas. Ao menos 161 mortes relacionadas com a dengue já foram registradas. E a maior parte dos casos (66,8 mil) foi registrada em Buenos Aires.

Os dados são considerados históricos porque, quando acumulados, representam quase quatro vezes o número de casos do mesmo período dos anos 2022/2023. Em comparação com a temporada de 2019/2020, chegam a ser nove vezes mais.

O manejo da crise sanitária por parte do governo de Javier Milei tem despertado críticas. Primeiro pelas semanas de silêncio que sustentou o ministro da Saúde, Mario Russo, sobre o tema, mas depois sobre o teor de suas declarações.

Calças e mangas compridas contra a dengue

A administração já disse que não pretende incluir a vacina contra a dengue no calendário nacional de vacinação, como o fez o Brasil. Segundo Russo, que é médico cardiologista pela Universidade de Buenos Aires, a UBA, não há comprovação de que a vacinação em massa possa mitigar o atual surto da dengue no país.

Na declaração que mais alvoroço causou, Russo recomendou atenção às suas roupas como modo de prevenir a doença. “É preciso usar mangas compridas, roupa clara e ter cuidado com as calças curtas”, disse ele, no mais uma figura de pouco destaque no governo.

Indagado pela imprensa local, esclareceu que o governo não é contra a vacina, mas que o ato de se vacinar fica a cargo de decisões pessoais. Portanto, do poder de compra de cada um.

Em média, a aplicação da vacina contra a dengue em duas doses em laboratórios privados de Buenos Aires custa 70 mil pesos argentinos (algo em torno de R$ 350).

Os últimos dados da administração nacional mostram que o salário mínimo argentino beira os 202,8 mil pesos, colocando o país em uma das posições mais baixas no ranking latino-americano quando se compara as moedas locais ao dólar.

Russo tem dito que a pressão pela inclusão da vacina no calendário nacional resulta de interesses privados. “Eu fui muito criticado, mas a saúde não foge à realidade nacional; também no setor há interesses”, disse ele em conversa recente com o canal TN.

“Há pressões dos laboratórios, dos meios de comunicação e da ‘casta'”, concluiu, empregando o termo que seu chefe, Javier Milei, usa com frequência para se referir a parte da comunidade política.

Mais recentemente, já em busca de suprir a ausência dos repelentes nos mercados e farmácias locais, o governo decidiu anular por um mês as travas à exportação do produto.

A resolução veio após o laboratório da SC Johnson, que responde por quase 80% do mercado local, dizer publicamente que não mais podia abastecer o país. A procura, afinal, teria aumentado 300%.

Nas únicas plataformas on-line de venda onde se encontra a marca mais comum à venda, os preços são exorbitantes. Versões em creme o aerossol de menos de 200 gramas chegam a sair por cerca de R$ 200.

Argentinos com viagens que já agendadas para o exterior têm aproveitado para fazer estoque do item. Aos turistas brasileiros que vão ao país, incluir o repelente como item indispensável é uma boa ideia.

Aedes aegypti, o mosquito transmissor da dengue — Foto: EBC

Fonte: Externa

Compartilhe esse artigo