Quando satélites entram novamente na atmosfera terrestre, eles se inflamam com plasma e se pulverizam em poeira e lixo. Conforme a mega-constelação de satélites estiver em órbita na década de 2030, as empresas farão isso a cada hora.
Hoje, existem cerca de dez mil satélites ativos e as empresas estão trabalhando para que este número chegue o mais rápido possível a dezenas de milhares mais, podendo chegar a um milhão nas próximas três ou quatro décadas.
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“Poderemos chegar a 100 mil satélites em dez ou 15 anos”, disse ao The Guardian o Dr. Jonathan McDowell, do Centro para Astrofísica da Harvard-Smithsonian.
Imagine esse lixo todo no Espaço. Afinal, ele não é um grande vazio como o senso comum pensa. Ele possui sistemas, como a magnetosfera, que nos mantém vivos e fornece oxigênio, protegendo nossa atmosfera. O espaço ao redor da Terra é um casulo de plasma que está encapsulando vida.
Além disso, não devemos confiar que a magnetosfera é gigantesca e robusta o bastante para nos manter sempre livres dos impactos dos lixos espaciais, como os satélites inativos.
Isso porque o pesquisador Sierra Solter, especialista em física do plasma, diz que o lixo espacial queimado quando volta à Terra é capaz de mudar nosso campo magnético, segundo seu novo estudo, publicado no repositório de pré-impressão arXiv e aguarda revisão de pares.
Satélites e demais lixos espaciais desestabilizam o campo magnético da Terra?
- Solter estudou o problema por mais de um ano e disse não ter dúvidas de que a vasta poluição espacial vai romper o sistema delicado de plasma que nos cerca “de um jeito ou de outro”;
- O físico alerta que poucos cientistas discutem o assunto, “em parte, suspeito, porque grande parte da investigação científica sobre o espaço está interligada com empreendimentos espaciais comerciais, que têm interesse em evitar estas questões”;
- O físico investigou a quantidade de poeira na forma de detritos de satélites e foguetes despejados na ionosfera durante a reentrada e descobriu que são cinzas metálicas equivalentes a várias torres Eiffel;
- “Nosso ozônio tem a espessura de apenas alguns centavos e, em breve, estaremos colocando pelo menos o equivalente a uma Torre Eiffel de cinzas metálicas por ano diretamente na ionosfera. E tudo isso ficará aí, indefinidamente”, lamentou.
O físico aponta ainda que essa quantidade enorme de lixo espacial pode estar forçando a “carga magnetosférica” terrestre. Não existe estimativa clara da massa de todas as regiões da magnetosfera, que será carregada com inúmeros destroços.
“Em breve, esses satélites do tamanho de um SUV estarão queimando na atmosfera de hora em hora”, alertou. São materiais altamente condutores que podem criar efeitos de carga e atuar como escudo magnético.
Se todos esses materiais condutores se acumularem em enorme camada de lixo, isso poderá prender, ou desviar todo, ou parte de nosso campo magnético.
A Terra é uma bola magnética que cercamos com lixo metálico que se move rapidamente. E até agora, extrapolando a partir de dados de código aberto, o lixo atual na ionosfera mostra uma aparente assinatura eletrostática feita pelo homem. Sabe-se que naves espaciais individuais podem perturbar o seu ambiente com rastros de plasma; imagine como 100 mil ou mais deles e o lixo associado poderiam perturbar a magnetosfera.
Sierra Solter, especialista em física do plasma
Segundo Solter, mesmo que as perturbações ionosféricas fossem em espaços reduzidos, como em regiões de voos espaciais, isso já poderia causar buracos acima da camada de ozônio.
Dessa forma, teríamos uma destruição atmosférica, capaz de erodir a atmosfera da Terra com o passar do tempo e transformar o planeta em um local inabitável.
Pessoas, como Elon Musk e Jeff Bezos, afirmam repetidamente que o Espaço é a chave para a longevidade humana. Mas e se for o contrário? E se a indústria espacial for o meio para o desaparecimento do nosso pálido ponto azul? E se toda esta poluição que os empreendedores espaciais estão criando estiver acontecendo de forma tão multidisciplinar, inacessível e não estudada que nem sequer compreendemos o risco?
Sierra Solter, especialista em física do plasma
Solter disse ainda que “nossa magnetosfera nos mantém vivos. Deve ser protegida como um ambiente terrestre. Em vez disso, estamos enchendo-a com lixo eletrônico para que os bilionários possam trocar sinais eletromagnéticos por dólares de que realmente não precisam”.
O físico alerta que a magnetosfera é nossa primeira linha de defesa contra o Sistema Solar e qualquer poluição que a afete deve ser intensamente estudada e monitorada.
Na verdade, se um asteroide do tamanho de um satélite Starlink se dirigisse em direção à Terra, ativaria o monitoramento da defesa planetária. Mas como se trata de um objeto feito pelo homem que impacta a atmosfera, não o monitoramos de forma alguma.
Sierra Solter, especialista em física do plasma
Para encerrar, Solter afirma que as empresas espaciais precisam parar de lançar satélites caso não sejam capazes de fornecer estudos que demonstrem que a poluição não prejudicará a estratosfera e a magnetosfera. “Até que esta poluição seja mais estudada, todos deveríamos reconsiderar a internet via satélite”, completou.