A maior crise da história do PSDB subiu de patamar e vive um novo capítulo. Os oito vereadores do partido na Câmara Municipal de São Paulo anunciaram que estão de saída do ninho tucano e pedirão desfiliação da legenda.
A decisão foi tomada em represália ao posicionamento da executiva municipal do PSDB na capital paulista, comandada pelo ex-senador José Aníbal (SP). Na semana passada, o colegiado decidiu, por 9 votos a 2, rechaçar o apoio à candidatura à reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB).
A medida desagradou a uma corrente significativa do partido na capital, capitaneada por secretários tucanos do atual governo, que defendem o emedebista sob o argumento de que se trata da continuidade da gestão do ex-prefeito Bruno Covas (eleito em 2020, pelo PSDB, e que tinha Nunes como vice em sua chapa). Covas morreu em 2021.
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Os oito vereadores tucanos que anunciaram saída do partido são Aurélio Nomura (rumo ao PSD), Rute Costa (para o PL), Sandra Santana (para o MDB), Beto Social (para o Podemos), além de Gilson Barreto, Fábio Riva, João Jorge (todos rumo ao MDB) e Xexéu Trípoli (que ainda não definiu seu destino).
O único representante do PSDB que, em tese, ainda pode permanecer no partido é o atual secretário municipal de Assistência Social da gestão Nunes, Carlos Bezerra Júnior, que está licenciado do mandato parlamentar, mas deve retornar à Câmara na próxima semana para disputar a reeleição. Ele ainda não definiu se fica ou sai do PSDB.
De acordo com o calendário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), vereadores e deputados que desejam concorrer a algum cargo nas eleições de 2024 têm até o dia 5 de abril para trocar de partido sem prejuízo de seus mandatos. Se Bezerra Júnior também deixar o PSDB, o partido ficará sem nenhum representante no Parlamento municipal.
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Antes da decisão do diretório, o grupo favorável a Nunes já havia divulgado uma carta na qual afirmou que a “forma de manter o PSDB de São Paulo em posição de destaque no cenário municipal é declararmos nosso total apoio à reeleição” do atual prefeito.
PSDB entre Tabata e Matarazzo
Ao romper com Ricardo Nunes e rechaçar o apoio ao atual prefeito, o PSDB agora está diante de duas alternativas para o pleito de outubro: apresentar uma candidatura própria ou apoiar a deputada federal Tabata Amaral (PSB), terceira colocada nas pesquisas de intenção de voto.
Apesar da chance de apoio à Tabata, engrossou nas últimas semanas o coro dos que defendem que o PSDB lance um candidato próprio, atraindo de volta ao partido o ex-vereador Andrea Matarazzo. Em 2020, ele foi candidato a prefeito pelo PSD e obteve apenas 1,55% dos votos (82.743). Caso não tenha candidato à prefeitura, será a primeira vez que isso ocorre em São Paulo desde que o PSDB foi fundado.
“O PSDB quer recuperar seu protagonismo. Não podemos deixar que usem nossa legenda para negociar acordos políticos aqui ou ali e não termos protagonismo no processo. Temos de falar, nos posicionar e dizer o que o partido pensa que seria importante para a cidade de São Paulo”, afirmou Aníbal, em entrevista ao InfoMoney. “O Andrea Matarazzo não está no partido, mas voltaria para o PSDB. Se for essa [a escolha], eu espero que isso esteja resolvido nos próximos dias, até porque não temos tanto tempo.”
A maior crise da história
Como mostrou reportagem publicada pelo InfoMoney, o PSDB vive a maior crise de seus quase 40 anos de história. Após polarizar com o PT todas as eleições presidenciais entre 1994 e 2014 (venceu 2 e foi derrotado em 4), a legenda perdeu relevância nacional e ficou fora do segundo turno da disputa pelo Palácio do Planalto em 2018. Na ocasião, o ainda tucano Geraldo Alckmin (hoje no PSB e vice-presidente da República) obteve pouco mais de 5 milhões de votos (4,76%), em um discreto quarto lugar.
Em 2022, após uma guerra fratricida entre João Doria (ex-governador de São Paulo) e Eduardo Leite (hoje governador do Rio Grande do Sul), o PSDB nem sequer lançou candidatura própria. O partido apoiou Simone Tebet (MDB), terceira colocada, com 4,9 milhões de votos (4,16%), que hoje ocupa o Ministério do Planejamento e Orçamento no governo Lula.
Desde 2018, ano que marcou consolidação de Jair Bolsonaro como maior antagonista do PT, deixaram o partido nomes como Geraldo Alckmin, Arthur Virgílio Neto (ex-líder do PSDB no Senado, ex-ministro de FHC e ex-prefeito de Manaus) e Xico Graziano (fundador da sigla, ligado a FHC e José Serra).
Também se desfiliaram do PSDB os ex-governadores João Doria e Rodrigo Garcia, além do deputado federal Carlos Sampaio (SP) e da senadora Mara Gabrilli (SP), ambos com destino ao PSD de Gilberto Kassab. Cobiçado pelo PL, de Bolsonaro, para disputar a prefeitura de Curitiba, o ex-governador do Paraná e deputado federal Beto Richa esteve a um passo de deixar o partido, mas recuou após ameaças da direção nacional do PSDB de que reivindicaria seu mandato em caso de saída.
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