Quatro gráficos que mostram por que o BC se preocupa com a inflação de serviços (mais do que com alimentos) | Brasil

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por O Diretório
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O Banco Central do Brasil precisa levar o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, a 3% em 2024 e 2025 — ou, pelo menos, deixar até 4,5%. Essas são as metas e bandas de tolerância definidas pelo Conselho Monetária Nacional (CMV) e que o BC precisa perseguir, através, sobretudo, das decisões que toma a respeito dos rumos da taxa básica de juros da economia, a Selic.

Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decidiu cortar a Selic em 0,50 ponto percentual, levando a taxa básica a 10,75% ao ano. Na prévia de março, a inflação acumulada em 12 meses estava em 4,14%.

A ata do último encontro do Copom, divulgada nesta semana, mostrou que os membros do Copom veem “algum arrefecimento nas projeções de alimentação para o curto prazo”, mas eles discutiram como “a recorrência de surpresas inflacionárias na inflação de serviços, em particular em seus componentes subjacentes e itens intensivos em trabalho, suscita dúvidas sobre a velocidade da desinflação” à frente.

A inflação dos serviços subjacentes é uma medida que exclui grupos voláteis como turismo, serviços domésticos, cursos e comunicação. Preços de passagens aéreas, por exemplo, costumam variar muito de mês para mês, dependendo da alta ou baixa temporada.

Já o grupo dos serviços intensivos em trabalho reúne atividades como empregado doméstico, cabeleireiro, médico e dentista.

Na prévia da inflação de março, os serviços subjacentes até desaceleraram para 0,40%, de 0,65% na prévia de fevereiro, de acordo com a MCM Consultores. Mas eles ainda ficaram acima da expectativa mediana do mercado, que girava em torno de 0,30%. Os principais itens que trouxeram desempenho mais forte para essa leitura foram, segundo a Warren Investimento, condomínio, hospedagem, serviços de streaming e conserto de automóvel.

Pior: na média móvel de três meses anualizada e dessazonalizada, os serviços subjacentes avançaram de 5,6% para 5,7%, segundo a Warren. A média móvel trimestral é uma forma de suavizar movimentos mensais, mas ainda captar a tendência “na ponta” de modo mais dinâmico do que a variação em 12 meses.

Os serviços intensivos em mão de obra, por sua vez, aceleraram de 6,24% na prévia de fevereiro para 6,40% em março, na média trimestral anualizada e dessazonalizada, aponta a Warren. Nos cálculos do Barclays e da XP, eles chegaram a 6,6%.

O BC persegue como meta o IPCA cheio, mas essas outras medidas são especialmente importantes para a autoridade monetária do país porque esses itens estão mais suscetíveis aos efeitos de uma taxa de juros menor ou maior do que, por exemplo, os alimentos.

Os preços dos alimentos sofrem mais a influência de fatores sobre os quais o BC tem pouco ou nenhum controle, como o clima e as cotações internacionais. O que o BC pode e tenta fazer é combater “choques secundários”, isto é, a contaminação dos preços de alimentos a outros itens.

Economistas e o BC se preocupam mais com a inflação “do lado do empresário”, explica Luiz Maciel, economista-chefe para Brasil do Bahia Asset Management.

“Em um restaurante, por exemplo, cerca de 70% do custo é com pessoal, não é com questões de estrutura, que chamamos de capital. A partir do momento em que o salário do cozinheiro sobe, suponhamos, 20%, o custo do dono do restaurante automaticamente vai subir. Para não perder margem, ele vai repassar esse custo ao preço da refeição, gerando inflação”, diz Maciel.

Fonte: Externa

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