Os Estados Unidos estão agora um passo mais perto de banir o TikTok ou forçar sua venda. Há apenas um problema de US$ 100 bilhões: quem compraria o aplicativo?
Tecnicamente, a legislação aprovada pela maioria da Câmara na quarta-feira (13) é um golpe que visa forçar a controladora chinesa do TikTok, ByteDance, a vender a rede social a uma entidade não chinesa.
Se não o fizer dentro de seis meses após a lei entrar em vigor, as lojas de aplicativos dos EUA serão proibidas de oferecer o TikTok na Terra dos Livres.
A venda não é iminente. O projeto enfrenta um caminho incerto no Senado, onde muitos legisladores disseram que se sentem desconfortáveis em interferir nos assuntos comerciais e impor limites à liberdade de expressão.
E mesmo que chegasse à mesa do presidente Joe Biden, a China disse inequivocamente que se oporia a uma venda forçada.
A proibição é um esforço improvável dos legisladores que abraçam as preocupações sobre os dados dos norte-americanos acabarem nas mãos de agências de espionagem chinesas.
Mas a perspectiva de até mesmo uma possível “placa de vende-se” no gramado do TikTok alimentou especulações sobre quem estaria na fila para comprá-lo.
Não é difícil perceber por que os figurões do Vale do Silício estariam “salivando”: o TikTok pode ser o aplicativo mais valioso do planeta que eles ainda não controlam.
Só o seu segmento nos EUA, com os seus 170 milhões de usuários, seria avaliado em cerca de US$ 100 bilhões, segundo Dan Ives, analista da Wedbush.
Se uma venda acontecer, “o valor estratégico e a plataforma de consumo do TikTok terão vários participantes estratégicos financeiros e tecnológicos interessados”, disse Ives em nota na quarta-feira.
Com US$ 100 bilhões, há poucas empresas que poderiam comprar o TikTok imediatamente. E aqueles que poderiam, em teoria – Meta, Alphabet, Microsoft – quase certamente enfrentariam obstáculos regulatórios.
“Quem vai comprar? Essa é a verdadeira questão”, disse Gene Kimmelman, ex-funcionário antitruste do Departamento de Justiça. “Se for Amazon, Microsoft, Google ou Meta, acho que você verá uma preocupação antitruste substancial.”
A Meta já detêm redes sociais como o Facebook e o Instagram, além do Threads, lançado em 2023. Enquanto isso, a Alphabet é dona do YouTube, um concorrente direto do TikTok.
Já a Microsoft não possui uma plataforma própria, mas a sua relação com a OpenAi já está sob escrutínio por reguladores de ambos os lados do Atlântico.
No início desta semana, o The Wall Street Journal informou que Bobby Kotick, ex-CEO da editora de videogames Activision Blizzard (que foi comprada pela Microsoft no ano passado), manifestou interesse em encontrar parceiros para adquirir o TikTok.
Citando pessoas familiarizadas com o assunto, o Journal escreveu que Kotick “apresentou a ideia de uma parceria para comprar o TikTok para uma mesa de pessoas que incluía o CEO da OpenAI, Sam Altman”.
A CNN não conseguiu confirmar a informação de forma independente. Representantes de Kotick e Altman não responderam imediatamente aos pedidos de comentários.
A Apple, uma das empresas mais valiosas do mundo, está sobre uma montanha de dinheiro e carece de uma rede social própria.
Contudo, a empresa tem de lidar com uma série de outras dores de cabeça regulamentares, incluindo novas limitações na Europa e uma ação do Departamento de Justiça norte-americano que desafia o modelo de negócios da Apple: o seu ecossistema rigidamente controlado.
Além disso, a cultura da Apple não parece uma combinação natural para o TikTok.
As redes sociais são um negócio confuso e complicado que requer monitoramento constante para eliminar discursos de ódio e imagens ofensivas.
A Apple não possui infraestrutura para esse tipo de operação. Sua única tentativa no cenário da mídia social, o Ping, foi um dos maiores fracassos da companhia.
E qualquer executivo de tecnologia ou investidor de capital privado que pense em comprar o TikTok precisaria estar preparado para entrar no “atoleiro” das mídias sociais.
Eles gostariam de recuperar as imagens da audiência no Congresso no início deste ano, na qual Mark Zuckerberg foi pressionado a pedir desculpas às famílias que culpam suas plataformas Meta por contribuir para o sofrimento de seus filhos.
E então avançamos para o atual CEO da TikTok, Shou Chew, que é de Singapura, manter a calma enquanto os legisladores lançam acusações veladas de que ele é um fantoche chinês. Não é exatamente um show de tecnologia confortável.
A última vez que os EUA tentaram forçar uma venda do TikTok, durante a administração Trump, as autoridades formaram uma dupla “Odd Couple” (casal estranho, em tradução livre) entre a Oracle e o Walmart para liderar a aquisição – um plano que acabou sendo arquivado depois que Pequim lançou contestações legais à venda.
Não há informações sobre se alguma dessas empresas estaria disposta a aumentar suas ofertas, embora o preço do aplicativo quase certamente tenha subido vários bilhões de dólares desde que o esforço de 2020 fracassou.
Enquanto isso, é improvável que a China dê luz verde a quaisquer medidas que resultem na perda do controle sobre sua tecnologia desenvolvida internamente, incluindo o poderoso algoritmo do TikTok.
No início deste mês, o Partido Comunista sublinhou na sua reunião anual que a inovação de alta tecnologia seria o foco central da estratégia de crescimento econômico de Pequim.
Uma questão-chave na avaliação do valor de um acordo com o TikTok é se a China permitiria que a ByteDance exportasse seu algoritmo – o “molho secreto” que mantém os usuários do TikTok colados em seus telefones.
Pequim considera que algumas tecnologias avançadas, incluindo algoritmos de recomendação de conteúdo, são críticas para o seu interesse nacional e pode, em última análise, preferir que o TikTok deixe o mercado dos EUA em vez de entregar o seu algoritmo.
“Separar o algoritmo do ByteDance seria um processo muito complexo, com muito escrutínio dos reguladores dos EUA”, escreveu Ives.
“Também esperaríamos desafios legais agressivos da ByteDance nos EUA, o que atrasaria a implementação de quaisquer decretos de código de área 202 de curto prazo.”
*Com informações de Brian Fung, da CNN Internacional
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