É só falar em piolho que muitos sentem a cabeça coçar instintivamente. Apesar de pequenos, esses bichinhos causam grande incômodo, especialmente entre crianças em idade escolar – e, consequentemente, muita preocupação em seus responsáveis. Mesmo sendo um problema muito comum, que atravessa gerações, permanecem incertezas quanto às melhores práticas de prevenção e tratamento e também sobre as causas relacionadas à disseminação do problema.
Segundo Fausto Flor Carvalho, presidente do Departamento de Saúde Escolar da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), a infestação de piolhos é conhecida como pediculose e é desencadeada pelo parasita Pediculus humanus. “São pequenos insetos, que não têm asas e se alimentam basicamente de sangue. Por isso causam tanta coceira”, explica Carvalho.
De acordo com ele, a rápida proliferação dos piolhos é uma das características mais preocupantes do quadro. Apenas a presença de um casal ou mesmo de uma única fêmea no couro capilar pode desencadear a deposição dos ovos, conhecidos como lêndeas, resultando na eclosão de novos insetos.
Essa dinâmica, como acrescenta Tadeu Fernandes, pediatra ambulatorial da SPSP, frequentemente leva a epidemias e surtos localizados, visto que as fêmeas têm capacidade para depositar até 10 ovos por dia, com uma expectativa de vida de 30 dias.
Como ocorre a transmissão de piolhos?
De acordo com Carvalho , a transmissão ocorre predominantemente por contato direto ou proximidade física. Isso porque os piolhos não voam nem pulam, mas se deslocam caminhando pelas superfícies. Por essa razão, crianças em idade escolar, que frequentemente interagem em salas de aula e dividem espaços, são as mais suscetíveis à infestação. Compartilhar objetos, como escovas, bonés e chapéus, também facilita a transmissão desses parasitas.
“É válido ressaltar que qualquer pessoa pode ‘pegar’ piolho, independentemente de idade, raça ou perfil socioeconômico. Muitas pessoas associam o problema com falta de higiene, mas esse estigma também precisa ser quebrado”, complementa Fernandes.
Quais são os sintomas da pediculose?
Segundo Maria Furman Hélène, presidente do Departamento de Dermatologia da SPSP, a coceira intensa e a presença de lêndeas (ovos) nos fios de cabelo são os principais sinais da infestação.
Além disso, o ato de coçar pode causar lesões cutâneas no couro capilar e na nuca, aumentando o risco de infecções bacterianas.
Em casos mais graves, quando o problema persiste por longos períodos, a pediculose pode levar até ao desenvolvimento de quadros anêmicos, como apontado pelo presidente do Departamento de Saúde Escolar da SPSP.
Como acabar com os piolhos?
O tratamento para pediculose pode ser feito por meio de aplicação de antiparasitários de uso tópico na região afetada, ou seja, loções, xampus e sabonetes.
Contudo, é extremamente importante que isso seja feito a partir da orientação de um médico pediatra ou dermatologista. Afinal, é preciso levar em consideração as particularidades de cada caso, como a gravidade do problema (se há alguma dermatite ou feridas associadas, por exemplo) e a idade do paciente.
“É aconselhável não se automedicar, já que as medicações com o uso indevido podem ter efeitos de irritação local, além de absorção sistêmica em crianças, gestantes e idosos, que possuem uma pele mais sensível”, explica Maria Furman.
Por causa da rápida proliferação – e, às vezes, também devido à dificuldade de acesso a consultas e medicamentos –, muitas famílias recorrem a soluções caseiras consideradas “milagrosas”, mas que devem ser sempre evitadas.
Um exemplo comum é o uso de refrigerante de cola ou vinagre com sal, conhecido como salmoura, no local da infestação. Em sua prática clínica, Carvalho já se deparou com casos extremos, como a aplicação de inseticidas nos cabelos de pacientes.
“Essas soluções, além de não possuírem eficácia comprovada, são perigosas, podendo causar dermatite, queimaduras no couro capilar e, em casos graves, até mesmo a alopecia (queda de cabelo). No caso dos inseticidas, também há o risco de morte do paciente”, alerta Carvalho.
O uso de medicamentos tópicos, sob recomendação de especialistas, é uma abordagem específica para o tratamento dos piolhos, enquanto a remoção manual das lêndeas com um pente fino é fundamental. Nesse caso, excepcionalmente, uma solução caseira, respaldada pela Fiocruz, pode ser útil.
“Esse método consiste em mergulhar o pente fino em uma mistura de meio copo de água e meio copo de vinagre. Ele auxilia na amolecimento dos ovos, facilitando a remoção”, explica Fernandes.
Independentemente do método indicado pelo médico, é preciso contar com esforços coletivos para que o problema seja de fato solucionado. “Não adianta tratar apenas uma criança. É necessário que todas aquelas que possuem um convívio diário sejam tratadas também”, ressalta o pediatra ambulatorial da SPSP.
Como evitar os piolhos?
Conforme orientações do Ministério da Saúde, adotar os seguintes cuidados é essencial na prevenção da pediculose:
- Evitar o compartilhamento de roupas, toalhas, acessórios de cabelo e outros itens de uso pessoal;
- Usar os cabelos presos;
- Evitar contato direto com pessoas infectadas pelo parasita;
- Checar os cabelos das crianças frequentemente e, sempre que possível, passar o pente fino;
- Comunicar a escola caso a criança apresente o problema (dessa forma, todos podem ser tratados ao mesmo tempo e o ciclo de recontaminação será interrompido).
Vale ressaltar que raspar ou manter os cabelos curtos não são estratégias eficazes para combater ou prevenir os piolhos, mas essas medidas podem facilitar a detecção e a remoção manual dos insetos e das lêndeas.