Parece TDAH, mas não é: conheça condições que se confundem com o transtorno

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por O Diretório
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O menino de 6 anos sentado à frente de Douglas Tynan, psicólogo clínico de crianças e adolescentes em Delaware, claramente não tinha transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). Tynan tinha certeza disso. Mas a professora do menino discordava.

Ele podia ficar desatento em sala de aula, mas, em casa, seu comportamento não era nada incomum para uma criança de sua idade. Leitor voraz, ele contou a Tynan que gostava de levar seus livros para a escola, porque os de lá eram fáceis demais.

O que a professora não havia considerado era que o menino provavelmente era superdotado academicamente, assim como sua mãe quando criança, disse Tynan – estudos já demonstraram que crianças negras, como o menino em seu consultório, têm menos probabilidade de serem encaminhadas para programas para superdotados.

Testes adicionais revelaram que Tynan estava certo. O garoto não ficava desatento na escola porque tinha TDAH. Era porque ficava entediado.

Dificuldade de concentração, por exemplo, está relacionada a 17 diagnósticos diferentes Foto: pathdoc/Adobe Stock

O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento que começa na infância e geralmente envolve desatenção, desorganização, hiperatividade e impulsividade que causam problemas em dois ou mais ambientes, como em casa e na escola.

Mas esses sintomas – tanto em crianças quanto em adultos – podem se confundir com uma série de outras características e transtornos. A dificuldade de concentração é um dos sintomas mais comuns listados no manual diagnóstico da Associação Americana de Psiquiatria e está ligada a 17 diagnósticos, de acordo com um estudo publicado em abril.

Os pacientes precisam de uma avaliação cuidadosa para evitar que sejam diagnosticados erroneamente com TDAH – ou que fiquem sem um diagnóstico correto. Confira a seguir alguns problemas comuns que podem se passar por TDAH.

Transtornos de comportamento e humor

Problemas de saúde mental como ansiedade, depressão ou transtorno desafiador opositivo às vezes se manifestam com sintomas semelhantes aos do TDAH.

Esses sintomas podem incluir falta de foco ou de motivação, explosões emocionais e dificuldade para planejar ou realizar tarefas, disse Max Wiznitzer, neurologista pediátrico do Rainbow Babies and Children’s Hospital em Cleveland e especialista em TDAH.

Isso se aplica tanto a adultos quanto a crianças. Entre os pacientes de Wiznitzer, é a ansiedade que mais se confunde com o TDAH.

“Uma pessoa com ansiedade consegue se concentrar? Não”, afirmou. “O motivo da falta de foco não é o mesmo do TDAH, mas o resultado final é o mesmo”.

E para deixar as coisas ainda mais complexas, é comum que as pessoas com TDAH também tenham um transtorno comportamental ou de humor.

Uso de substâncias

O uso excessivo de substâncias pode resultar em falta de concentração e hiperatividade, entre outros problemas. Se alguém usa drogas por anos e depois reclama com o médico de um declínio na capacidade cognitiva – como dificuldade de prestar atenção, reter informações ou se lembrar das coisas – é fundamental verificar há quanto tempo a pessoa apresenta esses sintomas, disse David W. Goodman, professor assistente de psiquiatria e ciências comportamentais da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins.

Se os sintomas não estavam presentes antes dos 12 anos de idade, o paciente não atende aos critérios de diagnóstico de TDAH, acrescentou.

Um estudo de 2017 constatou que cerca de 95% dos participantes que manifestaram sintomas semelhantes aos de TDAH pela primeira vez aos 12 anos ou mais não tinham o transtorno, apesar de apresentarem resultados positivos nas listas de verificação de sintomas. Entre os que tiveram sintomas debilitantes, o motivo mais comum foi o uso intenso de substâncias, seguido por transtornos como depressão e ansiedade.

Problemas de sono

Os adultos precisam de sete a nove horas de sono por noite. Adolescentes e crianças precisam de ainda mais. Mas, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças americano, mais de 33% dos adultos nos Estados Unidos – e cerca de 77% dos estudantes do ensino médio – não estão dormindo o suficiente.

Estudos indicam que a privação de sono prejudica a capacidade de pensar com clareza e realizar determinadas tarefas, além de afetar negativamente o humor.

Um estudo de grande escala descobriu que as pessoas que normalmente dormiam entre três e seis horas tinham um desempenho pior em testes cognitivos que mediam a capacidade do cérebro de reter informações e o tempo necessário para concluir uma tarefa. Essas dificuldades imitam sintomas comuns do TDAH, como lentidão mental, esquecimento ou o hábito de deixar tarefas inacabadas.

Distração digital

Qualquer pessoa que tenha um smartphone é continuamente inundada por mensagens de texto, notificações e oportunidades para ficar rolando a tela – e isso dá a sensação de que nossa atenção está sendo constantemente desviada ou que nossa capacidade de concentração diminuiu. Mas isso não significa que agora todos nós temos TDAH.

Retire as telas de uma pessoa neurotípica e ela vai conseguir se concentrar melhor, ao passo que uma pessoa com TDAH ainda terá problemas para se concentrar, mesmo quando removerem as distrações externas, disse Goodman.

As pessoas que se consideram usuárias constantes de tecnologia digital têm maior probabilidade de relatar sintomas de TDAH, sugerem as pesquisas, mas nem todos os usuários intensivos têm o transtorno.

Problemas físicos e estresse

Terapeutas e pesquisadores que estudam o transtorno dizem que é importante passar por uma avaliação médica antes do diagnóstico de TDAH, pois há uma grande variedade de doenças que podem gerar sintomas semelhantes aos do transtorno, como desatenção, problemas de memória ou névoa cerebral, o que pode fazer com que as pessoas se sintam lentas, distraídas e esquecidas.

Alguns exemplos são lesões cerebrais, doenças crônicas, como fibromialgia ou Síndrome da Taquicardia Postural Ortostática (POTS), diabetes, problemas cardíacos ou distúrbios do sistema endócrino, como hipotireoidismo.

O estresse, tanto crônico quanto agudo, também pode imitar o TDAH, ocasionando dificuldade de planejamento, organização e autorregulação.

Então, como saber se é realmente TDAH?

Um diagnóstico adequado de TDAH requer várias etapas: entrevista com o paciente, histórico médico e de desenvolvimento, questionários de sintomas e, se possível, conversas com outras pessoas na vida do paciente, como um cônjuge ou professor.

Os questionários por si só não são suficientes. Um estudo descobriu que, quando os adultos preenchiam testes para uma escala de TDAH, eles muitas vezes eram identificados com o transtorno, mesmo quando não o tinham.

Pode ser mais complicado diagnosticar o TDAH em adultos, porque eles têm uma história de vida mais longa, o que significa um número maior de fatores complicadores, disse Margaret Sibley, professora de psiquiatria e ciências comportamentais da Escola de Medicina da Universidade de Washington, em Seattle. Além disso, não há diretrizes de prática clínica nos Estados Unidos para diagnosticar e tratar pacientes após a infância.

Isso faz com que alguns pacientes corram para a internet para obter um diagnóstico rápido e uma receita. Outros tentam desvendar seus sintomas pesquisando o transtorno nas redes sociais.

“Existe esse movimento em direção ao autodiagnóstico e ao questionamento da necessidade de um diagnóstico médico”, disse Sibley. “Mas é preciso ter cuidado, porque, se você se autodiagnosticar erroneamente, vai ficar sem a solução correta para seus problemas”, acrescentou.

No final, obter uma avaliação abrangente é o melhor caminho. Sibley sugeriu começar com um médico de cuidados primários e depois procurar um profissional de saúde mental.

Tynan disse que, em geral, ele parte do pressuposto de que o paciente não tem TDAH e, em seguida, tenta examinar tudo o mais que possa estar causando os sintomas. “Se vejo fortes indícios de ansiedade, depressão e TDAH, tenho de perguntar: ‘O que está acontecendo aqui?’”, afirmou./TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Este artigo foi originalmente publicado no The New York Times.

Fonte: Externa

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