O Papa Francisco revelou, neste domingo (31), ter sido usado para impedir a eleição de Joseph Ratzinger, o Papa Bento XVI, durante o Conclave de 2006.
A informação foi divulgada pela agência italiana de notícias ANSA, citando o jornal espanhol ABC.
A declaração de Francisco é parte do livro de entrevistas “El Sucesor” (O Sucessor, em tradução livre), escrito pelo jornalista espanhol Javier Martínez-Brocal que descreve as memórias do Pontífice e sua relação com Bento XVI. A obra será publicada em 3 de abril.
“Naquele conclave eles me usaram”, disse Francisco. “Os cardeais juram não revelar o que acontece no conclave, mas os Papas têm licença para contar”, explicou.
“Obtive 40 dos 115 votos na Capela Sistina. Foram suficientes para impedir a candidatura do cardeal Joseph Ratzinger, porque, se tivessem continuado a votar em mim, ele não teria conseguido chegar aos dois terços necessários para ser eleito Papa”, afirmou o argentino.
O Papa foi questionado se ele mesmo não poderia ter sido eleito.
“Essa não foi a ideia de quem estava por trás dos votos”, contou Jorge Bergoglio, o Papa Francisco. “A manobra consistiu em colocar meu nome, bloquear a eleição de Ratzinger e, então, negociar um terceiro candidato diferente”, acrescentou. “Mais tarde me disseram que não queriam um Papa estrangeiro”, contou.
Franciso, então, foi questionado sobre quando essa manobra teria acontecido.
“O conclave começou na segunda-feira, 18 de abril de 2005. A primeira votação foi à tarde. Esta manobra aconteceu na segunda ou terceira votação, na manhã da terça-feira, 19 de abril de 2005”, disse o Papa.
Francisco conta que ao perceber a operação disse ao cardeal colombiano, Darío Castrillón: “não brinque com minha candidatura, porque agora eu digo que não aceito, hein? Me deixe aqui. E, assim, Benedito foi eleito”, lembrou.
O Papa revelou, ainda, que Ratzinger era o seu “candidato”, porque ele era o único que poderia se tornar Pontífice após a revolução de João Paulo II.
Francisco afirmou que ficou feliz com a eleição de Benedito.
“Se tivessem escolhido alguém como eu, que causa tantos problemas, eu não teria podido fazer nada. Era um homem que acompanhava o novo estilo e não foi fácil para ele”, disse. “Ele encontrou muita resistência no Vaticano”, finalizou.