Kiev (Reuters) – A Rússia está consolidando ilegalmente seu controle sobre o território ucraniano ocupado ao criar um “clima de medo” com práticas como detenção arbitrária, assassinatos e tortura, disse à Reuters a chefe de uma missão da ONU na Ucrânia.
Falando antes do lançamento de um relatório abrangente da Missão de Monitoramento de Direitos Humanos da ONU na Ucrânia (HRMMU) sobre os territórios que a Rússia ocupou desde sua invasão em grande escala em 2022, a chefe da missão, Danielle Bell, disse que as violações de direitos da Rússia foram usadas para aterrorizar os moradores locais e fazê-los cooperar.
“Essas ações combinadas de censura, vigilância, opressão política, repressão à liberdade de expressão, restrições de movimento (…) criaram um clima de medo no qual a Federação Russa poderia desmantelar sistematicamente os sistemas ucranianos de governo e administração”, afirmou ela em uma entrevista.
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Em Moscou, as autoridades russas não responderam imediatamente a um pedido de comentário da Reuters sobre os principais pontos do relatório da ONU.
Moscou tem negado repetidamente as acusações de que suas forças tenham cometido atrocidades ou atacado deliberadamente civis durante a invasão, que diz ser uma “operação militar especial”.
A Rússia ocupou a península da Crimeia em 2014 e grupos separatistas ocuparam duas capitais regionais no leste da Ucrânia no mesmo ano. A invasão de 2022 levou Moscou a capturar outras faixas de terra no leste e no sul da Ucrânia. Atualmente, o país controla mais de 17% do território ucraniano, onde vários milhões de pessoas permanecem.
Prisões, torturas e assassinatos
Os monitores da ONU não tiveram acesso ao território ocupado, mas basearam suas conclusões em mais de 2.300 entrevistas com pessoas que viviam em territórios ocupados, haviam deixado o território ocupado ou viviam em áreas liberadas.
Bell disse que houve uma fase inicial de violações de direitos, incluindo assassinatos, torturas e detenções arbitrárias de pessoas consideradas ligadas às forças de segurança ucranianas ou que se acreditava estarem apoiando a Ucrânia.
Isso foi seguido por campanhas contra as liberdades de movimento, reunião e expressão, afirmou ela. E depois por um esforço para transformar todas as principais instituições estatais em instituições russas, algo que, segundo Bell, viola o direito humanitário internacional.
Esse esforço fez com que as escolas fossem forçadas a mudar para o idioma e o currículo russos, e o sistema judiciário prendeu pessoas em prisões russas. Os funcionários públicos foram forçados a obedecer a esses novos sistemas, disse ela.
Bell deu o exemplo da usina nuclear de Zaporizhzhia, onde, segundo ela, os trabalhadores foram forçados a continuar trabalhando mesmo que não quisessem.
“Quando eles resistiam, enfrentaram ameaças, intimidação, assédio, ameaças contra suas famílias e alguns até mesmo prisão arbitrária, detenção, tortura e, em alguns casos… morte.”