Diretor de videoclipes, Anthony Mandler fez sua estreia nos cinemas com o filme “Monster”, de 2018, que narra a dramática trajetória de uma adolescente negro e estudante exemplar, com um futuro promissor, que é acusado de homicídio. O mais recente trabalho de Mandler é “Cercados”, um faroeste altamente estilizado e com um enredo um tanto introspectivo.
O enredo é ambientado em 1870, no Novo México e gira em torno de uma Buffalo Soldier, Mo Washington (Letitia Wright), que deixou de ser escrava há cinco anos para ser combatente na Guerra Civil Americana. Vestida como um homem, sua figura esguia a ajuda a montar a imagem masculina que irá protegê-la contra a violência, mas mesmo assim, ela ainda parece frágil.
Com uma bíblia que guarda um papel poderoso entre suas páginas, uma escritura de um terreno no Colorado que vai garantir um local para que ela possa exercer sua liberdade, ela embarca em uma diligência com outros passageiros. Wheeler (Jeffrey Donovan), é um tipo de autoridade temida pelos demais passageiros; o senhor Fields (Brett Gelman) é um vendedor de uísque; e a senhora Borders (Augusta-Allen Jones) é uma senhora arrogante que deixa explícito seu desprezo por Mo.
O motorista faz com que Mo entregue sua arma, uma Regminton imponente e tão esguia quanto a pessoa que a manuseia, e se sente no bagageiro, do lado de fora da carruagem, como uma clara demonstração de repulsa por sua cor de pele.
No meio da viagem, a diligência é abordada por um famoso e temível ladrão de bancos, Tommy Walsh (Jamie Bell) e sua gangue de malfeitores. Durante uma cena de perseguição, Mo faz uma demonstração de sua destreza com armas de fogo e suas habilidades de sobrevivência. Os cavalos se espalham e a carruagem despenca do precipício com a senhora Borders, espalhando e depois reunindo novamente os sobreviventes da diligência, que agora têm Walsh sob sua mira.
Enquanto uns saem para procurar ajuda, Mo fica encarregada de vigiar Walsh até que o grupo retorne. Durante um vacilo, o criminoso foge, mas vai parar nas mãos de um grupo de indígenas que os ameaçam. Mo novamente mostra suas façanhas, libertando Walsh da mira dos desconhecidos e amarrando-o a uma árvore. Mas, antes, Mo encontra o documento de sua propriedade completamente danificado e chora.
Intrigado, Walsh pergunta como ela, uma ex-escrava, conseguiu comprar uma propriedade, sugerindo que ela talvez tenha agido ilegalmente. Então, Mo conta sua trajetória como Buffalo Soldier, como eram chamados os soldados negros durante a Guerra Civil, apelido cunhado pelos próprios indígenas, que comparavam a força e robustez dos soldados, além de seus cabeços encaracolados, aos dos búfalos.
Walsh também fala de seu passado. Diz que a esposa e o filho indígenas foram mortos, que sempre sofreu injustiças e que isso foi razão de sua marginalidade. Tentando medir sua situação e a de Mo em uma mesma régua, ele a convida para uma parceria. Ela o liberta e ele divide com ela uma fortuna que roubou de um banco e enterrou nas redondezas. No entanto, nada do que Walsh diz pode ser verdade, afinal de contas, ele é um criminoso, embora carismático como Billy the Kid.
Mas Mo não se deixa manipular com facilidade e eles travam um duelo de palavras, que coloca à mesa a inteligência e moralidade de ambos. A visita inesperada de um fazendeiro, Will Clay (Michael Kenneth Williams, em seu último papel), traz um novo embate de discursos e também de corpos.
O encontro entre Mo e os outros membros da gangue de Walsh, que estão procurando por ele, é iminente. Essa sucessão de embates é tricotada por Mandler com habilidade. As atuações de Jamie Bell e Letitia Wright são magnéticas e críveis. O filme, que está no Prime Video, se arrasta em uns momentos e explode em outros, mas sem nunca entediar e sempre cozinhando um clima de tensão.
Filme: Cercados
Direção: Anthony Mandler
Ano: 2023
Gênero: Drama/Faroeste
Nota: 10