O que é a Doença de Behçet, síndrome incurável e autoimune do filósofo Clóvis de Barros Filho

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por O Diretório
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O professor, escritor e filósofo Clóvis de Barros Filho, de 57 anos, contou em entrevista ao Estadão que foi diagnosticado com a Doença de Behçet, uma condição rara e autoimune. “É muito pouco provável que eu esteja vivo daqui cinco anos”, comentou em conversa com o jornal. A doença está relacionada a um mau funcionamento do sistema imunológico, levando o corpo a atacar os seus próprios tecidos. Dessa forma, ela pode causar problemas e sintomas diversos, dificultando o diagnóstico.

A manifestação mais comum do quadro é o surgimento de aftas e úlceras recorrentes nos olhos, na boca e nos órgãos genitais. A condição, no entanto, pode se agravar e atingir artérias, articulações, sistema neurológico e os olhos. No caso de Barros Filho, a doença fez com que ele perdesse grande parte da visão e exige que tome medicamentos que suprimem o sistema imunológico.

Clóvis de Barros Filho contou ao Estadão que a doença fez com que perdesse parte da visão Foto: Riba Dantas/Top Produções/Divulgação

“Ela se manifesta no organismo comprometendo vasos e artérias de forma inflamatória no corpo como um todo”, explica Bruna Giusto, reumatologista do Hospital Santa Paula, da rede Dasa.

Sintomas

A doença começa a se manifestar com aftas bastante dolorosas, muitos anos antes do diagnóstico. Essas aftas afetam qualquer parte da cavidade oral e variam em número e tamanho, geralmente duram mais de uma semana e não deixam cicatriz. Já as úlceras genitais, que também podem se manifestar, são mais dolorosas, mas ocorrem em menor frequência.

As lesões de pele, de acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia, incluem eritema nodoso nas pernas, espécies de caroços dolorosos e avermelhados, e acnes graves, chamadas de pápulo-pustulosas, que se manifestam como nódulos vermelhos e bolhas de pus.

Nos olhos, diferentes partes podem se inflamar devido à doença, como o revestimento interior pigmentado, conhecido como úvea, e os vasos sanguíneos da retina. Em termos médicos, são quadros chamados de uveíte, vasculite na retina e vitreíte.

Estudos indicam que a ocorrência de problemas oculares na doença é muito comum, com dados que variam entre 23% e 96% dos casos. Quando o olho é inflamado, também pode haver dificuldades na visão, sem dor ou vermelhidão nos olhos. No entanto, a inflamação ocular pode levar à cegueira irreversível.

Quanto às queixas neurológicas, a SBR aponta que pode ocorrer dor de cabeça forte, que não melhora com analgésicos e possui sintomas parecidos com os de um derrame cerebral. Nessa situação, é obrigatório buscar o atendimento de urgência em pronto-socorro. Em outros casos, a doença de Behçet pode levar a dificuldades de memória e raciocínio, que vão piorando ao longo do tempo.

O intestino também pode ser afetado, fazendo com que o paciente queixe-se de cólica, diarreia e sangue nas fezes.

Já a inflamação nos vasos sanguíneos pode levar a tromboses nas veias de qualquer parte do corpo, seja nas pernas, no abdome ou no interior do crânio, e aneurismas também podem acontecer.

Causas

Segundo a reumatologista Luciana Muniz, coordenadora do setor de Reumatologia do Hospital Sírio-Libanês, em Brasília, a doença envolve questões genéticas.

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Sabe-se que o início dos sintomas geralmente ocorre entre os 20 e 40 anos de idade e que homens e mulheres são afetados de forma semelhante. No entanto, segundo a entidade médica, homens jovens de origem asiática apresentam manifestações mais graves da doença. É que, historicamente, a Behçet é mais comum em países que fazem parte da antiga rota da seda, que se estende da Ásia ao Mediterrâneo.

“Ela envolve questões genéticas, tanto em pacientes que vêm dessa região, como em outras pessoas com a predisposição, que podem, inclusive, desenvolver a doença a partir de gatilhos ambientais, tal qual acontece com todas as doenças autoimunes”, explica Luciana.

Bruna destaca que, apesar disso, as causas da doença ainda não são bem definidas. Segundo ela, além das questões genéticas, algumas teorias sugerem fatores que podem agravar os sintomas, como a participação de alguns vírus, alterações intestinais e a ingestão de alimentos que pioram a inflamação oral, como abacaxi e café. No entanto, não há conclusões definitivas.

Diagnóstico

O diagnóstico de doença de Behçet é clínico, ou seja, baseado nas manifestações apresentadas pelo paciente e analisadas pelo médico. Não há exame de laboratório específico que determine se uma pessoa possui a doença, assim, as conclusões também são tomadas por meio da exclusão de outras possibilidades.

Por isso, a palavra usada por Luciana para definir o processo de diagnóstico da doença é “quebra-cabeças”. “A gente tem que juntar as manifestações clínicas e complementar com exames para excluir outras condições, como infecções ou outra doença autoimune, e para identificar o que está acontecendo com o paciente, por exemplo, se há algo em seu crânio ou nos olhos”, explica.

Desse modo, muitas vezes o reumatologista precisa do auxílio do oftalmologista para saber se há uma inflamação no olho do paciente e qual estrutura está inflamada. Após o diagnóstico, a pessoa com a doença deve seguir com o reumatologista regularmente para avaliar se a doença de Behçet está ativa e qual o tipo de tratamento a ser prescrito.

Tratamento

O tratamento da doença de Behçet varia de acordo com os sintomas e os órgãos afetados do paciente. Para manifestações menos graves, como aftas, dores articulares e lesões de pele, os tratamentos incluem antissépticos e analgésicos.

Em casos um pouco mais complexos, é indicado o uso de corticoides tópicos (pomadas para passar no local da lesão ou afta).

Já para manifestações mais graves, como inflamação dos olhos e sintomas neurológicos e vasculares, ou em caso dos medicamentos não surtirem efeito, são utilizados imunossupressores, medicamentos que ajudam a controlar a imunidade para que o sistema imunológico do paciente não o ataque, causando as inflamações.

Fonte: Externa

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