O filme europeu, que foi aplaudido de pé nos cinemas, está na Netflix e vai tocar cada canto do seu coração

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por O Diretório
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O longa-metragem “Nunca Deixe de Lembrar”, dirigido por Florian Henckel von Donnersmarck, aborda o tenso relacionamento entre a arte e o poder em regimes totalitários, enfocando a era nazista e sua subsequente influência sob diferentes formas de governo autoritário. Explorando a trajetória de Adolf Hitler, o filme revela como sua falha pessoal em se estabelecer como artista moldou sua percepção e política cultural, que buscava marginalizar e suprimir qualquer expressão artística que desafiasse a ortodoxia ideológica ou propusesse uma visão de mundo alternativa. 

O regime, em sua tentativa de monopolizar o discurso cultural, promoveu uma exposição em Munique em 1937, com o intuito de definir e exaltar o que considerava ser arte verdadeira, de acordo com seus princípios ideológicos. Tal evento marcou o início de uma campanha sistemática contra a modernidade na arte, caracterizando-a como degenerada e inimiga do estado. Essas políticas não apenas reprimiam a liberdade de expressão artística, mas também prefiguravam os horrores e a expansão do conflito global que se seguiria. 

Central para a narrativa de Von Donnersmarck é a figura de um jovem, Kurt, cujas experiências com essas exposições e o encontro com figuras emblemáticas da resistência cultural delineiam sua jornada pessoal e criativa. Inspirado pela vida e obra de Gerhard Richter, um artista real cujo legado transita pela complexidade das relações entre arte, memória e poder, Kurt simboliza a luta pela integridade artística em meio à opressão. 

Ao avançar no tempo, o filme detalha como Kurt, agora interpretado por Tom Schilling, continua a navegar pelas restrições impostas à arte, primeiro pelo nazismo e, mais tarde, pelo regime comunista. Através desses períodos, “Nunca Deixe de Lembrar” destaca as contínuas tentativas de subordinar a arte a agendas políticas, seja na forma de realismo socialista ou de qualquer doutrina que negue a autonomia da expressão criativa. 

Além da esfera política, o enredo se aprofunda nas complexidades das relações humanas, particularmente através da história de amor entre Kurt e Elisabeth (Ellie), mostrando como o contexto político e social influencia as trajetórias pessoais. Essa dimensão humana é complementada pela figura do pai de Ellie, um médico com segredos obscuros, evidenciando como a moralidade é frequentemente comprometida em tempos de autoritarismo. 

“Nunca Deixe de Lembrar” transcende a narrativa histórica para questionar o papel da arte e do artista em sociedades marcadas pela censura e pelo autoritarismo. Através de sua história abrangente e personagens intricados, o filme defende a ideia de que a arte deve existir livre de constrangimentos pragmáticos, servindo como um espaço para a reflexão, resistência e a expressão da complexa experiência humana. Gerhard Richter, com sua obra e sua vida, emerge como um testemunho da resiliência e da capacidade transformadora da arte, mesmo diante dos maiores desafios. 


Filme: Nunca Deixe de Lembrar
Direção: Florian Henckel von Donnersmarck
Ano: 2018
Gênero: Drama/Romance
Nota: 9/10

Fonte: Externa

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