O secretário de Segurança Pública de São Paulo (SSP), Guilherme Derrite, evitou falar sobre as 56 mortes registradas ao final da terceira fase da Operação Verão. A ação policial em cidades da Baixada Santista foi encerrada na segunda-feira (1º) sob acusações de abusos policiais e execuções feitas por moradores e entidades civis.
“Eu nem sabia que eram 56, não faço essa… Infelizmente são 56. Para mim o ideal é que não fosse nenhuma, mas no mundo real que a gente vive, infelizmente…”, afirmou Derrite, em entrevista coletiva após participar de evento oficial da Prefeitura de São Paulo, nesta terça-feira (2).
Segundo números divulgados pelo governo Tarcísio de Freitas (Republicanos), durante a terceira etapa da Operação Verão foram apreendidas 2,6 toneladas de drogas e 119 armas de fogo ilegais. Ao todo, 1.025 pessoas foram presas, entre elas 438 foragidas da Justiça.
Operações como a Verão tiveram início ano passado na região após o registro de assassinatos de policiais militares. Em entrevistas, Tarcísio de Freitas afirmou que a ação era necessária para combater o crime organizado e o tráfico de drogas.
Em etapas anteriores, durante a Operação Escudo, foram registradas 36 mortes. Somados, o número total de vítimas faz dessas operações as ações policiais mais letais do Estado desde o massacre do Carandiru, em 1992, quando 111 presos morreram.
Sobre o número de mortes registrados na Operação Verão, entre fevereiro e 1º de abril, o comunicado oficial do governo paulista diz que “56 criminosos entraram em confronto com as forças policiais e morreram”.
A justificativa de que houve confronto em todos os casos é rebatida por moradores e entidades civis, que sustentam ter havido mortes de pessoas inocentes, casos de execução e omissão de socorro. Relatório feito pela Ouvidoria das Polícias de São Paulo, em parceria com outros órgãos, apresentou evidências de irregularidades em 12 ocorrências com mortes.
Em fevereiro, relatório elaborado por oito entidades e pela Ouvidoria reuniu casos de tortura, invasão a domicílios, tentativa de execução e de abordagens violentas e abusivas a moradores da região, além de testemunhas que negam a ocorrência de confronto, versão sustentada pela SSP.
Desde a primeira etapa dessas operações, o Ministério Público de São Paulo investiga as suspeitas e já chegou a apresentar denúncias contra ao menos dois policiais. Em março, um grupo de entidades denunciou Tarcísio ao Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) pelo aumento da violência policial na Baixada Santista. Na ocasião, o governador declarou que não estava “nem aí” com as denúncias e que as ações continuariam.
Nesta terça-feira, Derrite disse que os números de apreensão de drogas, de prisões e a redução de roubos na região comprovam que a estratégia “deu certo” e que o saldo da operação foi “extremamente positivo”. Questionado sobre as mortes, ele disse desconhecer o número e que o ideal seria não haver vítimas fatais, mas atribuiu as ocorrências às circunstâncias do “mundo real”.
“Se o senhor entrar numa viatura policial em determinada comunidade na Baixada Santista, o senhor vai sofrer disparo de arma de fogo, infelizmente. Então o que posso dizer é que os policiais são heróis da vida real”, afirmou o secretário ao jornalista.
Na coletiva, Derrite lembrou dos três policiais mortos no litoral paulista. “Essa é a vida real. Não é o mundo utópico onde a gente fala ‘olha teve o número x de mortes'”, afirmou.
Segundo o secretário, encerrada a terceira etapa da operação, o governo aumentou o efetivo policial para as cidades da região e serão feitos investimentos para reformas em instalações policiais e construção de batalhões.