Morreu na tarde deste sábado, 6, aos 91 anos, o desenhista, cartunista, ilustrador, jornalista e escritor Ziraldo. Dono de uma carreira prolífica, criou personagens emblemáticos, em publicações como “A Turma do Pererê”, “Flicts” e “O Menino Maluquinho”, que lhe rendeu um prêmio Jabuti. Foi também fundador de “O Pasquim”, semanário de humor perseguido pelo regime da Ditadura Militar. Fora do Brasil, teve trabalhos publicados em revistas como “Penthouse” e “Mad”.
Em 1952, de volta a Minas Gerais, ingressou na Faculdade de Direito da UFMG. Formado, nunca exerceu a profissão. Dois anos depois, ele substituiu o cartunista Borjalo na “Folha de Minas”. Em 1957, novamente no Rio, começou a trabalhar na revista “O Cruzeiro”, onde criou, dois anos depois, o Pererê, o saci. Com o sucesso do personagem, a editora da revista lançou uma publicação mensal, apenas com suas histórias. Nascia “A Turma do Pererê”, seu primeiro grande sucesso.
Nos anos 1960, Ziraldo passou a trabalhar no “Jornal do Brasil” e na revista “Pif-Paf”, dirigida por Millôr Fernandes. Em 1969, lançou “O Pasquim”, ao lado ao lado de Jaguar, Tarso de Castro e Sérgio Cabral. Um dos capítulos mais memoráveis da publicação é a entrevista com Leila Diniz, cujas falas sobre sexo e fidelidade renderam, meses depois, o Decreto 1.077, que instituiu a censura prévia da imprensa no País.
Naquele mesmo ano, lançou seu primeiro livro infantil, “Flicts”, a história de uma cor que procura seu lugar no mundo. São também da década de 1960 personagens como Jeremias, o Bom, Supermãe e Mirinho, assim como suas experiências como cartazista, para filmes como “Os Cafajestes” e “Os Fuzis”, ambos de Ruy Guerra. Fumante, largou o cigarro ao criar cartazes para uma campanha antitabagista durante a presidência de José Sarney.
Em 1982, Ziraldo deixou a redação de “O Pasquim” e começou a se dedicar principalmente aos livros para crianças. É neste início de década que ele ganhou seus dois prêmios Jabuti, por “O Menino Maluquinho” (1980) e “O Bichinho da Maçã” (1982).
As aventuras do menino que vive com uma panela na cabeça ganhou um spinoff em 1995, com “Uma Professora Muito Maluquinha”. A história ganhou duas adaptações: em 1996, para a TV, dirigida por Sonia Garcia e estrelada por Letícia Sabatella; em 2010, para o cinema com direção de seu sobrinho, André Alves Pinto, e com Paola Oliveira no papel principal.
Em 1999, Ziraldo fundou as revistas “Bundas”– uma paródia da revista “Caras” – e “Palavra”. Em 2002, começou a editar, junto ao irmão Zélio, um novo periódico chamado “OPasquim21”, que deixou de circular dois anos depois.
Ao lado de Maurício de Sousa, Ziraldo lançou “Mônica e o Menino Maluquinho na Montanha Mágica”, em 2018, durante a Bienal do Livro de São Paulo. Pouco mais de um mês depois, ele teve um AVC e chegou a ser internado em estado grave, vindo a se recuperar posteriormente.
No ano passado, o escritor celebrou os 40 anos de sua obra mais conhecida, “O Menino Maluquinho”. Para marcar a ocasião, a Melhoramentos lançou uma edição comemorativa, com capa dura e também os primeiros esboços de seu personagem principal.
O livro já teve 129 edições, vendeu quatro milhões de cópias e foi publicado em mais de dez países. Já adaptado para o cinema, em 1995, por Helvécio Ratton, a obra virou série animada, na plataforma de streaming Netflix, em 2022.
Ziraldo vinha sofrendo com problemas de saúde nos últimos anos. Em 2013, sofreu um infarto na Alemanha e fez um cateterismo. Em 2014, foi internado para exames após passar mal. Em 2018, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC).
Pai do compositor Antonio Pinto e das cineastas Daniela Thomas e Fabrízia Pinto, Ziraldo deixa também a segunda mulher, a produtora Márcia Martins.