Micro-ondas causa alterações na comida? É prejudicial ficar perto do aparelho? Investigamos

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O funcionamento do forno micro-ondas parece até mágica. O alimento é acomodado dentro de uma caixa de metal, dá algumas rodopiadas e pronto: a refeição está pronta e quentinha. Isso pode levantar algumas desconfianças, sobretudo porque ele opera com o uso de radiação (ou melhor, de ondas eletromagnéticas).

Conversamos com especialistas sobre tudo o que você precisa saber sobre esse equipamento e a sua influência na saúde humana.

Aparelho de micro-ondas está presente em boa parte das cozinhas brasileiras, mas muita gente não imagina como ele funciona  Foto: New Africa/Adobe Stock

Como o micro-ondas funciona?

O físico Francisco Guimarães, cientista do Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP), explica que o segredo do funcionamento desses aparelhos está na radiação chamada de “eletromagnética”, um tipo de luz ou sinal que carrega energia na forma de ondas, muito comum em nosso ambiente (é só lembrar das ondas de rádio e do raio-x). As chamadas “micro-ondas”, emitidas pelo aparelho que está na maioria das cozinhas brasileiras, são consideradas de baixa energia e frequência.

Quando as micro-ondas são transmitas no aparelho, elas agem diretamente nas moléculas de água do alimento que está lá dentro. Ao receberam a radiação, essas moléculas começam a vibrar intensamente, gerando calor – processo similar ao que acontece quando esfregamos uma mão na outra rapidamente. É o calor gerado pelas moléculas de água que permite cozinhar o alimento.

Assim, como descreve o engenheiro químico Jorge Gut, pesquisador do Centro de Pesquisa em Alimentos e da Escola Politécnica da USP, em um forno a gás ou elétrico o ar quente entra em contato com a superfície do alimento e, então, se espalha por dentro dele, aquecendo-o. Já no micro-ondas o calor é gerado diretamente dentro dele.

Radiação oferece riscos?

É importante esclarecer que a radiação emitida pelos fornos de micro-ondas não tem nada a ver com aquela ligada à energia nuclear. Para começo de conversa, Guimarães deixa claro que ela não é ionizante. Isso significa que ela não tem energia suficiente para alterar a estrutura molecular dos tecidos humanos ou mesmo dos alimentos.

E é somente a tal radiação ionizante que pode modificar as propriedades da matéria e causar danos às células, enquanto a não ionizante, usada justamente no forno de micro-ondas, apenas tem a capacidade de causar a agitação das moléculas, aumentando a temperatura – mas sem alterar a estrutura do material.

O micro-ondas causa alterações nos alimentos?

As micro-ondas – que, como vimos, não são perigosas –, são absorvidas apenas pelas moléculas de água da comida, que é aquecida sem sofrer mudanças significativas. Por isso, as alterações que elas causam nos alimentos não são muito diferentes daquelas provocados pelo fogo de uma churrasqueira, um fogão ou uma AirFryer. As ondas apenas aquecem a comida.

No forno convencional, a superfície dos alimentos fica crocante, mas seca, enquanto no micro-ondas eles se tornam mais úmidos. A nutricionista Renata Guirau, especialista em nutrição clínica e metabolismo da Rede Oba Hortifruti, confirma: “As alterações correspondem apenas às mudanças sensoriais, como de temperatura ou textura do alimento”, explica.

Na prática, o micro-ondas não quebra ligações químicas nem modifica a estrutura fundamental dos nutrientes. Segundo Guimarães, o que o aparelho faz é apenas tornar as fibras e proteínas mais maleáveis e digeríveis, por exemplo.

O micro-ondas retira os nutrientes dos alimentos?

Os alimentos cozidos no micro-ondas mantém a maioria dos nutrientes, como vitaminas, minerais e proteínas. No entanto, durante o cozimento, alguns deles podem, sim, ser perdidos, explica Gut. Mas isso não é exclusivo do micro-ondas. “Sempre que um alimento é submetido a altas temperaturas, como ao ser cozido em água, algumas substâncias se perdem”, afirma o especialista.

Por outro lado, o preparo de muitos vegetais no micro-ondas é vantajoso, já que pode preservar mais certas vitaminas que se dissolvem facilmente na água, como as do complexo B, abundantes nesse grupo. Como o micro-ondas permite um cozimento rápido, e sem água, acaba minimizando a eliminação desses nutrientes. É algo que também ocorre na AirFryer.

Gut ensina: “Quanto maior a temperatura, o tempo de cozimento e a quantidade de água utilizada, maior é a perda de nutrientes”. Além disso, esse forno é uma estrela na hora de reaquecer alimentos que já foram cozidos. “O processo mais rápido no micro-ondas reduz a perda nutricional em comparação com o reaquecimento em uma panela ou no forno”, atesta.

É prejudicial ficar perto do micro-ondas?

Não faz mal estar por perto enquanto o micro-ondas está funcionando. Isso porque ele é projetado para conter as ondas eletromagnéticas que utiliza para aquecer os alimentos.

Sabe aquela tela com pequenos furos, visível na janela desse eletrodoméstico? Guimarães explica que ela impede a saída das ondas, que são incapazes de passar pelas pequenas frestas e acabam refletidas de volta para dentro.

Além disso, segundo o físico, a estrutura metálica do micro-ondas evita qualquer tipo de vazamento. Como o equipamento só funciona com a porta fechada, garante-se que a energia eletromagnética não escape.

O que pode acontecer é vazar um pouco das ondas pelas frestas da porta, caso ela esteja com algum defeito na vedação. Por isso, fazer a manutenção do equipamento de tempos em tempos é muito importante.

Mesmo assim, a quantidade que pode vazar é muito pequena, além de não ser ionizante, o que faz com que não ofereça risco à saúde. Guimarães explica que a intensidade das ondas que vazam é tão baixa quanto a radiação que te atingiria em seu quarto se houvesse uma torre de telefone próxima à sua casa.

As micro-ondas estão entre nós

A verdade é que as micro-ondas são muito comuns em nosso dia a dia. Elas são emitidas por dispositivos como rádios FM e até o seu celular – sem representar um perigo para a saúde humana.

“Nós estamos rodeados de sinais de micro-ondas”, explica Gut. A diferença entre eles e aqueles que esquentam a nossa sobra de pizza do fim de semana é a intensidade. Em nosso ambiente externo não há aquecimento, pois os sinais são muito baixos, diferente da realidade lá no interior do pequeno forno quando está fechado.

“Dentro de um forno de micro-ondas, há uma antena emissora, como a antena de um roteador de wi-fi ou de um aparelho celular, mas com uma intensidade de sinal mil vezes maior”, completa o pesquisador.

Portanto, não há nada de extraordinário nas ondas eletromagnéticas do aparelho. Elas estão por toda a parte, especialmente na comunicação sem fio; e mesmo que apresentem uma energia maior dentro do forno ligado, como reforçado, não representam um perigo, pois não saem da caixa de metal.

Uma desvantagem

O aparelho de micro-ondas não é recomendado para o preparo de carnes, peixes e frango crus, segundo Gut. Mas o motivo não não tem nada a ver com as ondas eletromagnéticas. É que, de maneira geral a temperatura para o cozimento de uma carne tem que chegar a, no mínimo, 74 °C – e permanecer assim por alguns minutos, seja qual for a forma de aquecimento.

Isso pode ser um problema no forno de micro-ondas, pois o aquecimento nele é muito rápido, e não é uniforme. Mesmo com o prato giratório, há partes do alimento que ficam mais quentes do que outras. E aí mora o risco de, nas partes mais frias, as bactérias sobreviverem.

“Por isso, para o preparo de carnes cruas, é recomendado usar o fogão ou o forno convencional, deixando o micro-ondas para o reaquecimento da carne que já foi previamente cozida”, ensina Jorge.

Orientações para a hora de descongelar os alimentos

Os especialistas destacam o processo de descongelamento como importante na relação entre micro-ondas e saúde. Renata aponta que descongelar alimentos nesses eletrodomésticos reduz o risco de crescimento bacteriano que ocorre quando ficam expostos à temperatura ambiente, como ao deixá-los na pia.

Apesar disso, esse método ainda não é o ideal. Na verdade, a maneira mais segura de descongelar alimentos é transferi-los do congelador para a geladeira, permitindo que o processo ocorra lentamente, pois a temperatura fria da geladeira inibe a multiplicação de bactérias.

Gut recomenda deixar o alimento descongelar por cerca de 24 horas, colocando-o na geladeira na noite anterior ao uso. Mas, se você estiver com pressa, a dica do pesquisador para evitar contaminação é cozinhar o alimento imediatamente após o descongelamento no micro-ondas.

Quais os cuidados na hora de usar o micro-ondas?

Segundo os especialistas, o maior perigo associado aos aparelhos de micro-ondas não é a radiação, mas preparar refeições sem prestar atenção ao recipiente usado para aquecê-las.

Certos plásticos devem ser evitados, pois, ao serem aquecidos, podem liberar substâncias como o bisfenol A (BPA), prejudicial ao sistema endócrino. Assim, opte por recipientes livres de BPA (identificados com o rótulo “BPA Free”).

Para isso, certifique-se de que os recipientes plásticos tenham um aviso no fundo indicando que são seguros para uso em micro-ondas. Caso não, observe o número dentro do símbolo triangular de reciclagem no fundo do recipiente. “O número 5 representa o polipropileno (PP), considerado o plástico mais seguro para micro-ondas. Os polietilenos (números 1, 2 e 4) também são seguros. Plásticos com símbolos 3 (filme de PVC), 6 (bandeja de isopor) e 7 não devem ser usados”, descreve Gut.

Um alerta do pesquisador é que, recentemente, um estudo mostrou que, mesmo usando polipropileno, pode ocorrer a liberação de partículas de nanoplásticos ou microplásticos no aquecimento de alimentos em micro-ondas. Por isso, vidro e cerâmica são as opções realmente mais seguras.

Outro conselho importante: nunca use alumínio! O metal pode causar faíscas e até incêndios no micro-ondas. Também, mantenha os recipientes abertos para facilitar a circulação do vapor e evitar acúmulo de pressão, que pode causar explosões.

Além disso, os produtos químicos de limpeza devem ser escolhidos com cuidado. Para limpar o interior do micro-ondas, use detergente neutro e água, evitando resíduos que podem ser transmitidos aos alimentos.

Fonte: Externa

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