Lula é mandão. Também é intervencionista, como dizem alguns, e isso reflete sua formação ideológica. Sua fala desastrada sobre a Petrobras, manchete dos grandes jornais, expressou essa formação. Em seu terceiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda sacode, e com maior vigor que nos governos anteriores, bandeiras dos tempos de Vila Euclides. Essas bandeiras foram carregadas mais discretamente no primeiro mandato, quando ele ouvia companheiros prudentes e mais familiarizados com administração.
O Lula de hoje é mais parecido com a ex-presidente Dilma Rousseff, resgatada politicamente e convertida em dirigente do Novo Banco de Desenvolvimento, conhecido também como Banco do Brics.
Mas Lula é mais que intervencionista. É mandão, mesmo, e seu mandonismo reflete algumas características preocupantes. Uma delas é sua dificuldade, cada vez mais visível, de entender, de fato, a importância do equilíbrio financeiro do poder público. Ao comentar a boa arrecadação de janeiro, o presidente falou, imediatamente, em rediscutir o limite de gastos para aumentar o investimento. Amadorismo? Ingenuidade? Nenhum governante com alguma experiência — e com algum conhecimento das finanças públicas — fala em afrouxar as contas depois de um bom resultado no começo do ano.
O presidente Lula também parece incapaz de entender a importância da estabilidade da moeda e dos preços. No mundo civilizado, cuidar da moeda é função de um Banco Central (BC). Essa instituição tende a ser mais eficaz quando opera com autonomia, livre da interferência dos poderes políticos e do mercado. Mas o presidente quer mandar também no BC, determinando sua política de juros e, portanto, as condições de financiamento da produção e do consumo.
De novo, ele parece esquecer algumas experiências muito instrutivas e especialmente desastrosas. Mais uma vez, é importante lembrar o período da presidente Dilma Rousseff, marcado pela sujeição inicial do BC à Presidência da República e por intensas pressões inflacionárias. Essas pressões foram alimentadas também pelo descontrole das finanças públicas.
A farra fiscal e monetária foi completada por dois anos de recessão, numa das piores fases da economia brasileira desde os anos 1970. Qualquer governante ou pretendente ao governo do Brasil deveria sempre se lembrar dessa experiência, aproveitando os ensinamentos dela derivados. O presidente Lula, no entanto, tem-se mostrado mais propenso a reabilitar politicamente a companheira Dilma Rousseff do que a aproveitar as lições de seus erros.
Uma das primeiras providências do presidente Michel Temer, ao assumir a vaga deixada pela titular, foi substituir a chefia do BC, criando condições para um breve e decisivo período de aperto monetário. A inflação foi rapidamente contida. Ao mesmo tempo, o Ministério da Fazenda iniciou a recuperação das contas públicas, num esforço relaxado, no entanto, no mandato seguinte.
Em seu terceiro governo, o presidente Lula poderia trabalhar pela reindustrialização do País, pela retomada segura do crescimento e pela consolidação de um setor público mais eficiente, mais enxuto e com finanças mais equilibradas. Em 2023, primeiro ano do novo mandato, o avanço da indústria foi, no entanto, medíocre, o investimento em bens de produção foi menor que no ano anterior e o crescimento econômico foi puxado pelo excelente desempenho do agronegócio. Esse desempenho, segundo muitos analistas, dificilmente se repetirá neste ano, embora o campo deva continuar produtivo e próspero.
O governo Lula tem bons ministros na área econômica. O presidente poderá beneficiar-se de seu trabalho, se os deixar cumprir suas funções sem embaraços. Para isso, ele terá de se limitar ao papel normal de chefe de governo, operando como coordenador do Executivo, como negociador com os outros poderes da República, como representante internacional e, é claro, como líder confiável de uma equipe administrativa.
Poderá complicar todo o trabalho governamental se insistir em dar palpites em tudo, em contestar a autonomia do BC e em solapar, com seus destemperos e excessos, a segurança dos investidores privados. A propósito, seria recomendável, desde logo, esquecer a ideia de usar os bancos públicos para forçar a redução dos juros. Autocontenção também pode ser uma demonstração de competência.