O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), voltou a fazer críticas ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por conta dos programas anunciados pela gestão petista para socorrer o Estado gaúcho, que sofreu com fortes chuvas e inundações no primeiro semestre de 2024. Leite reclamou nesta quarta-feira das regras de alguns dos programas e disse que há um “descompasso” entre o que foi anunciado pelo governo Lula e o que, de fato, está chegando para a população na ponta.
“O presidente disse que o governador tem que agradecer e eu agradeço. Mas não deixo de demandar. Há um descompasso entre o apoio anunciado e o que está acontecendo lá na ponta. Temos que ajustar e aprimorar o que está sendo anunciado”, emendou o governador.
Segundo Leite, um dos principais problemas está na questão do programa destinado a garantir a manutenção dos empregos em companhias afetadas pelas inundações. Essa proposta foi anunciada pela gestão petista em junho. Mas, de acordo com o governador, as empresas estão tendo dificuldades de acessar a verba.
“Elencamos [durante a reunião] as ações e reconhecemos o que o governo já fez, mas sinalizamos os pontos que merecem aprofundamento. O primeiro é o programa de manutenção de emprego e renda. O governo anunciou R$ 1,2 bilhão, mas acabaram sendo acessados somente R$ 170 milhões porque as regras do programa ficaram muito limitadas”, argumentou.
O governador solicitou que o programa permita que empresas localizadas fora da “mancha de inundação” também possam ser contempladas. Até agora, o auxílio oferecido pelo governo se destina apenas às companhias que estão dentro da região que foi inundada pelas águas.
“O tema da mancha da inundação [é uma questão a ser revista]. Há empresas que foram muito afetadas no seu faturamento por causa dos acessos bloqueados [às cidades]. A gente consegue evitar mais demissões se houver ajustes no programa”, argumentou. Nesse sentido, Leite pediu ampliação do período de funcionamento do programa. “Queremos um período um pouco maior [do programa] porque as empresas não conseguiram acessar o financiamento”, acrescentou.
Leite ainda comparou o programa de manutenção de emprego criado pela gestão Lula ao que foi implementado na gestão anterior, durante a pandemia de covid. “Queremos um programa o mais semelhante possível ao que foi feito na pandemia, é isso o que estamos advogando. [Queremos] o relaxamento das regras para evitar demissões desnecessárias”, disse o governador gaúcho.
Leite também pediu o “aprimoramento” do programa que oferece crédito com juros subsidiados para empresas do Rio Grande do Sul, que terão de fazer investimentos para retomar suas atividades. “O outro ponto são as operações de crédito, com subsídios aos juros. Há dificuldade [no acesso ao crédito] porque o fundo garantidor não garante recursos ao tomador em relação ao risco. As empresas não conseguem comprovar condições de pagar [o crédito] e o banco acaba negando”, justificou.
Por fim, Leite citou um terceiro problema, referente à renegociação das dívidas dos Estados, algo que está sendo formatado no Congresso Nacional. “Também falamos da renegociação de dívidas dos Estados. As condições colocadas pelo Senado não contemplam o Rio Grande do Sul. O presidente Lula tomou nota de tudo e eu saio com boa expectativa de que o governo vai tomar providências. Talvez faremos uma nova reunião hoje com o Rui Costa [Casa Civil]”, disse.
Questionado sobre a troca de farpas com Lula, Leite tentou contemporizar, mas admitiu que o debate entre os dois está “ácido”. “A conversa com o Lula foi muito amistosa, o presidente é um ser político, que faz suas críticas. Nós não vamos pensar igual, nós precisamos pensar no país. Embora a gente possa fazer um debate privadamente, isso transborda para o público. Mas eu sempre disse para o presidente que, do meu lado, nunca vou acertar na canela, vou acertar sempre na bola”, afirmou ele ao fazer uma analogia com o futebol. “É um debate que pode ser ácido, mas sempre resguarda a ideia de tratar da nossa população”, concluiu.