O setor de energia eólica instalou em todo o mundo o equivalente a 117 gigawatts de nova capacidade em 2023. É um aumento de 50% em relação ao ano anterior e faz de 2023 o melhor ano já registrado para novos projetos eólicos, de acordo com um relatório da associação representativa do setor.
Segundo o relatório, esse aumento das instalações de energia eólica “mostra que o mundo está avançando na direção certa no combate às mudanças climáticas”.
Mas os autores alertam que o setor de energia eólica precisa ampliar seu crescimento anual para pelo menos 320 gigawatts até 2030, para conseguir honrar o compromisso da COP28 (a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) de triplicar a capacidade mundial instalada de geração de energia renovável até 2030, assim como cumprir a ambição do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius.
“É muito bom ver o aumento do crescimento do setor de energia eólica e estamos orgulhosos de ter alcançado um novo recorde anual”, disse o CEO da GWEC, Ben Backwell. “Mas muito mais precisa ser feito para liberar o crescimento.”
Ainda assim, o relatório mostra que o vento passou a ser “mais compreendido e apreciado em todo o mundo pelo valor que traz como fonte de energia renovável”, segundo avalia George Aluru, CEO da Associação do Sector Elétrico do Quênia, uma associação comercial dos investidores privados em eletricidade.
“Esse aumento do fornecimento de energia renovável sustenta as metas climáticas e se alinha com a garantia de um desenvolvimento sustentável”, afirmou ele.
Com os impactos cada vez maiores das mudanças climáticas, a energia eólica e outras fontes de energia renováveis são vistas como fundamentais para reduzir a produção de eletricidade a partir de combustíveis fósseis e mitigar essas mudanças. As energias renováveis são a forma mais barata de eletricidade em muitas partes do mundo e estão entre as mais baratas na maioria das demais.
Hoje a capacidade mundial acumulada de energia eólica soma 1.021 gigawatts.
Christian Andresen, gerente de pesquisa do SINTEF Energy Research, um instituto independente com sede na Noruega que se dedica à pesquisa aplicada na área da energia, afirmou que o relatório mostra que o setor de energia eólica tem “acelerado seu ritmo” ao atrair investimentos e ganhar maturidade, e isso pode levar a um efeito de bola de neve que conduzirá a um crescimento futuro.
Para o planeta, segundo ele, o relatório indica que é possível intensificar a atividade para atingir as metas climáticas.
“Este é um elemento chave importante na transição para uma sociedade com zero de emissões líquidas”, acrescentou Andresen.
Da mesma maneira que em 2022, a China esteve à frente de todos os outros países em termos de novas instalações de energia eólica tanto em terra como no mar. O país foi responsável por 65% das novas instalações em 2023, seguido por Estados Unidos, Brasil e Alemanha. Juntos, esses quatro países responderam por 77% das novas instalações em nível mundial no ano passado.
O relatório observa que o crescimento das instalações de energia eólica está muito concentrado em alguns grandes países e relaciona esse fato a estruturas de mercado fortes que permitem dimensionar as instalações nesses países. Os cinco principais mercados no fim do ano passado continuaram a ser China, EUA, Alemanha, Índia e Espanha.
Mas alguns outros países e regiões têm aparecido mais, e registraram níveis recordes de crescimento em 2023.
A África e o Oriente Médio instalaram quase 1 gigawatt de capacidade de energia eólica em 2023, quase o triplo do ano anterior. Com os projetos que estão perto do lançamento na África do Sul, no Egito e na Arábia Saudita, o relatório prevê que as novas adições de energia eólica em terra na África e no Oriente Médio crescerão cinco vezes até 2028, em comparação com 2023.
Um dos mercados para prestar atenção é o Quênia, onde a energia eólica fornece cerca de 17% da eletricidade, de acordo com o relatório. O país tem o maior parque eólico da África, o Projeto de Energia Eólica do Lago Turkana, de 310 megawatts, e o relatório aponta que há novos projetos de grande escala planejados para o país, como um parque eólico de 1 gigawatt da empresa local de geração de energia KenGen.
Mas a construção de instalações de energia eólica é cara e implica investimentos iniciais elevados, e países emergentes e em desenvolvimento têm custos de capital maiores e pagam taxas de empréstimo mais elevadas para desenvolver sua energia eólica.
A energia eólica também enfrenta dificuldades de rede e nas cadeias de fornecimento, e a inovação no sistema elétrico é necessária para integrar a energia eólica intermitente à rede e ao mesmo tempo manter sua confiabilidade, de acordo com Erin Baker, professora de pesquisa em engenharia industrial e operacional na Universidade de Massachusetts. Para dar um exemplo, ela contou que a energia eólica em alto-mar precisa de alguns equipamentos e manufatura muito especializados e também exige experiência em finanças e modelos de negócios.
Apesar disso, Baker acredita que o crescimento acelerado da energia eólica, como mostra o relatório, significa que os países estão desenvolvendo as cadeias de fornecimento necessárias para manter esse crescimento, e isso “quase certamente” levará a uma redução de custos e a melhorias na tecnologia à medida que mais e mais instalações sejam construídas ao redor do mundo.
“O crescimento recente e o apoio dos países ao setor de energia eólica são sinais promissores de que a cadeia de fornecimento está sendo estabelecida”, disse Baker.