Gênio de Uberlândia: Suposto autor de estudo contra urnas apurou fraudes para governos

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Apontado pela Polícia Federal (PF) como um dos responsáveis pelo estudo apresentado pelo partido de Jair Bolsonaro, o PL, para questionar as urnas eletrônicas, o cientista de dados Eder Balbino informa em seu LinkedIn que é “especialista em fraudes” e diz já ter trabalhado “na identificação de fraudes em diferentes instâncias do governo federal e também em governos estaduais”. 

De acordo com informações divulgadas por Balbino na mesma rede, a prestação do serviço aos órgãos públicos teria ocorrido no período em que trabalhou na empresa Maxtera Extrema Performance, com sede em Brasília, de março de 2016 a dezembro de 2019 – durante as gestões dos ex-presidentes Michel Temer (MDB) e Bolsonaro. Nesse período, a Maxtera firmou contratos com os ministérios da Defesa, da Infraestrutura e da Economia, conforme informações do Portal da Transparência do governo federal.

Eder Balbino, conhecido pela PF como Gênio de Uberlândia
Gênio de Uberlândia prestou serviços aos órgãos públicos entre 2016 e 2019

Na mesma época, em setembro de 2017, Balbino fundou a Gaio Innotech, localizada em Uberlândia (MG). O nome da empresa aparece no documento assinado pelo Instituto Voto Legal (IVL) que foi usado pelo PL para pedir à Justiça Eleitoral a anulação de votos registrados em urnas fabricadas antes de 2020. “Para fiscalizar o comportamento das urnas eletrônicas no 1º e no 2º turnos, utilizando a análise inteligente de dados, o IVL fez uma parceria com a Gaio.io”, informa a entidade no relatório. Os dados apontados no documento foram desmentidos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). 

Balbino nega que tenha participado da elaboração do relatório. Em nota do seu advogado, Fidel Braga, o empresário alega que “fez um trabalho técnico operacionalizando o que era demandado pelo cliente”. De acordo com ele, a Gaio vendeu o uso do software ao IVL e “a inteira responsabilidade pelo uso do software era do contratante”. “Esta responsabilidade do IVL consiste na inserção dos dados da plataforma, bem como as conclusões obtidas”, destacou. 

A Agência Pública apurou que mais recentemente, em 18 de setembro do ano passado, Balbino e seu sócio Calebe Aires Camargo Garcia abriram a Gaio Global LLC nos Estados Unidos. A empresa foi registrada em uma casa na cidade de Katy, no Texas. Questionado sobre os objetivos da companhia e o trabalho de Balbino para o governo federal, Braga respondeu que “essas perguntas não têm relação com os fatos que estão sendo apurados [pela PF]”. 

O cientista de dados foi um dos alvos da Operação Tempus Veritatis e prestou depoimento dia 22 de fevereiro à PF, em Uberlândia. Ele teria feito parte, segundo as investigações, do “núcleo de desinformação e ataques ao sistema eleitoral”, que teria como finalidade “estimular seguidores a permanecerem na frente de quarteis e de instalações das Forças Armadas, no intuito de criar o ambiente propício para a execução de um golpe de Estado”. 

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes concluiu, em decisão que autorizou a operação, que Balbino atuou em conjunto com o major do Exército Angelo Denicoli e o consultor político argentino Fernando Cerimedo. Cerimedo protagonizou uma live em 4 de fevereiro de 2022 em que apresentou um dossiê com informações mentirosas sobre o sistema eleitoral. 

“Todo o panorama exposto, segundo a Polícia Federal, aponta a ação coordenada dos integrantes do grupo criminoso para amplificação das falsas narrativas que construíram e replicavam acerca do sistema eleitoral brasileiro, estando ainda devidamente comprovada a relação mantida entre Fernando Cerimedo, Angelo Martins Denicoli e Eder Balbino, na dinâmica de divisão de tarefas fixada para aquela finalidade”, concluiu Moraes. 

A PF destacou em seu relatório que uma pasta no serviço de nuvem Google Drive, criada por Fernando Cerimedo, teria sido alimentada com arquivos de autoria de Denicoli e que a análise dos dados identificou que arquivos foram modificados por Balbino, o que ele contesta. 

O empresário explicou nas redes sociais que seu nome ficou registrado porque teria ajudado um representante do IVL com dificuldade para baixar o arquivo e resolver o problema. “Os dados que foram operacionalizados por mim no Gaio são provenientes do TSE, publicados para que toda população possa baixar, analisar e assim haver transparência no processo eleitoral. É exatamente o que foi realizado a pedido do cliente IVL”, acrescentou.

Segundo a PF, Balbino seria o “gênio de Uberlândia” ao qual o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, se referiu em entrevista à imprensa. Por meio de nota, Balbino afirmou não ter “qualquer ligação com o PL” e “não ter tido qualquer contato com o argentino Fernando Cerimedo”, destacando ainda “desconhecê-lo”.

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