Após mais de 50 dias de buscas, os dois fugitivos da Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, foram encontrados em Marabá, no Pará, na tarde desta quinta-feira (4). Rogério da Silva Mendonça e Deibson Cabral Nascimento, ambos ligados a facção Comando Vermelho, tinham escapado do presídio em 14 de fevereiro e desde então eram procurados por forças federais e estaduais na região.
Para a socióloga e pesquisadora do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (GENI-UFF), Carolina Grillo, a verdadeira desarticulação do crime organizado no Brasil exige mais do que somente a captura de pessoas. “Todas as pessoas são substituíveis nessas redes, desde as mais baixas funções desempenhadas nos pontos de vendas de drogas até as mais altas funções”, afirma.
Segundo investigações, o crescimento da violência em estados da região norte, como o Pará, onde os fugitivos foram recapturados, se deve principalmente à atuação de facções que se nacionalizaram, como o Comando Vermelho (CV), soberano na região metropolitana de Belém, e o Primeiro Comando da Capital (PCC), que tem se aliado a facções menores, como o Comando Classe A e Revolucionários do Amazonas.
Segundo Grillo, é preciso que tanto o governo federal como os estados atuem de forma mais estrutural para combater esses grupos. “Muito mais importante é rever a questão do acesso à armas de fogo por esses grupos. A gente viveu um período de desregulamentação do acesso às armas de fogo, e essas facções conseguiram aumentar o seu poderio bélico nos utimos anos”, constata.
A pesquisadora aponta ainda a necessidade de que a Lei de Drogas seja repensada. Segundo ela, a possível regulamentação de algumas drogas no mercado formal seria um ataque às bases econômicas do crime organizado.
Atualmente, no Brasil, existem cinco presídios federais considerados de segurança máxima, localizados em Mossoró, Brasília, Catanduvas, Campo Grande e Porto Velho. O sistema foi criado para prender longe dos locais de atuação as lideranças do crime organizado.
Porém, para a socióloga, a criação deste modelo acabou contribuindo para espalhar as organizações criminosas pelo Brasil, uma vez que as lideranças de facções como Comando Vermelho e PCC passaram a formar conexões com presos de outros estados para expandir a atuação dos grupos. “É um sistema que precisa ser problematizado e discutido amplamente”, afirma Grillo.
A fuga dos detentos Rogério da Silva Mendonça e Deibson Cabral Nascimento foi a primeira registrada na história das penitenciárias federais. Por isso, a pesquisadora aponta que acabou se tornado “uma questão de honra” para as forças de segurança recapturá-los. “Foi uma mancha para a reputação do sistema penitenciário federal”, aponta a socióloga.
Para Grillo, apesar do êxito em encontrar os fugitivos, é preciso que o Ministério da Justiça garanta que a tecnologia utilizada nessas prisões realmente funcione para que novos episódios como o de Mossoró não voltem a ocorrer. “Sistemas de segurança caríssimos estavam inoperantes. Todo o investimento volumoso em equipamentos de vigilância talvez não estivessem operando da maneira adequada. Isso pode acender um alerta para que presos tentem realizar fugas em outros presídios”, alerta.