O fim da pressão dos alimentos in natura no atacado foi a “principal informação” trazida pelo Índice Geral de Preços — Disponibilidade Interna (IGP-DI) de março. A afirmação é do economista André Braz, coordenador de Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), que lembra que os in natura passaram, dentro do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que responde por 60% do IGP-DI, de uma alta de 6,25% em fevereiro para um crescimento de apenas 0,10% em março.
O IPA reduziu a velocidade de queda, passando de -0,76% em fevereiro para -0,50% no mês passado. A desaceleração dos alimentos in natura contribuiu para que os bens finais passassem de +0,50% em fevereiro para -0,23% em março, enquanto as matérias-primas brutas passaram de -2,70% para -2,15% no mesmo período.
Os bens intermediários, também entre fevereiro e março, foram de -0,17% para +0,68%.
Braz cita a relevância da redução da pressão sobre os alimentos no IPA. Como exemplo, lembra que o feijão passou de +5,18% em fevereiro para -8,54% em março, o arroz variou de +3,12% para -1,35% no mesmo período, enquanto os ovos passaram de +12,97% para +2,65% e o arroz em casca passou de -4,18% para -10,19%.
“Esses dados antecipam que o que havia depositado pressão inflacionária [nos alimentos] começa a ceder e está mais próximo do consumidor. De certa forma, já está chegando ao consumidor porque o IPC desacelerou”, diz Braz.
O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que responde por 30% do IGP-DI, subiu 0,10% em março, depois de alta de 0,55% em fevereiro. Sete das oito classes de despesa componentes do índice registraram decréscimo em suas taxas de variação: Transportes (de 0,87% para 0,21%), Educação, Leitura e Recreação (-1,17% para -2,22%), Alimentação (1,06% para 0,56%), Despesas Diversas (2,05% para 0,42%), Comunicação (0,43% para -0,31%), Saúde e Cuidados Pessoais (0,56% para 0,32%) e Vestuário (0,34% para -0,03%).
Braz não acredita que o IPC vá seguir o exemplo do IPA e registrar deflação nas próximas medições. Apesar de admitir que a pressão sobre alimentação está reduzida, para o economista o grupo de serviços ainda está “resiliente” e os combustíveis ainda podem pressionar, uma vez que o barril do petróleo segue em alta.
“Entre abril e maio, os alimentos in natura podem devolver parte do aumento que acumularam no começo do ano. No IPA deve acontecer primeiro, no IPC vai chegar, mas não vai colocar a inflação ao consumidor no [nível] negativo”, afirma Braz.