FGV: Alta de combustíveis para reduzir defasagem de preços pode ter impacto de 0,4 p.p. no IPCA | Brasil

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O conflito entre Irã e Israel deve colocar mais pressão por um reajuste interno dos combustíveis no Brasil, mas os efeitos sobre os alimentos devem ser mais brandos. A afirmação é do economista André Braz, coordenador de índices de preços do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), para quem a defasagem dos preços internos dos derivados frente às cotações internacionais já pesavam para um reajuste mesmo antes do ataque do Irã ao território israelense.

Segundo ele, caso o reajuste aconteça de forma a compensar metade da defasagem atual na gasolina, por exemplo, o combustível ficaria 8% mais caro nas refinarias da Petrobras, o que significaria um impacto de 0,4 ponto percentual (P.p.) no IPCA. A gasolina pesa 4,9% no índice de inflação oficial.

“Isso se a defasagem não ampliar [devido ao conflito] e houver necessidade de um ajuste maior”, pondera Braz.

No caso do diesel, o impacto é menor, uma vez que o produto pesa apenas 0,3% no IPCA. Logo, uma alta de 5% — que equivaleria à metade da defasagem hoje existente, segundo Braz — causaria um impacto de elevação de 0,02 ponto percentual (p.p.) no índice.

Mas Braz lembra que “o diesel engana”, pois é responsável por abastecer máquinas no campo, tem impacto no transporte urbano e movimenta termelétricas no setor de energia, entre outros usos. “Gasolina é para consumo privado, das famílias. O diesel é para a cadeia produtiva, acaba tendo impacto maior, mas é difícil estimar porque tem algum impacto em todos os setores. Muita coisa pode ser impactada [indiretamente] pelo diesel”, frisa Braz.

Nos últimos 12 meses, o IPCA acumula alta de 3,93% até abril, enquanto a gasolina soma aumento de 4,3% e o diesel, baixa de 1,25%.

Em relação aos alimentos, Braz detalha que o impacto direto pode vir em função da escalada do conflito a ponto de haver algum comprometimento da cadeia de transporte de grãos. Mas o economista ressalta que se preocupa mais, em termos de pressão sobre os preços de alimentos, com os fenômenos climáticos El Niño e La Niña.

“O conflito pode apenas empurrar os preços um pouco mais”, diz.

Ele afirma que os preços dos grandes grãos — soja, milho e trigo — estão “comportados”, compensando um pouco os efeitos climáticos.

“Soja, milho e trigo estão em queda quando comparados com 2023. Estão mais baratos que há um ano. Isso ajuda a compensar algumas pressões que a gente vê por aqui”, explica.

Braz acrescenta que o que pressiona atualmente os alimentos no Brasil são os in natura, que sofrem com choque de oferta. “Mas é cíclico. Sabemos que os in natura ‘devolvem’ essas altas depois, quando a oferta aumenta”, diz.

Sobre o conflito e o efeito nos alimentos, Braz frisa que o início dos ataques é sempre o período de maior volatilidade, causada pela incerteza sobre a dimensão que as agressões podem tomar.

“Pode haver uma escalada de preços sem que haja uma necessidade real disso [no começo do conflito]. Mas essa escalada seria ditada pela incerteza”, diz Braz.

Dentro do IPCA, o grupo alimentação e bebidas subiu 3,1% nos últimos 12 meses encerrados em março. Entre os subgrupos, a alimentação no domicílio subiu 2,51% em 12 meses e a alimentação fora de casa avançou 4,71%.

Funcionário de posto de combustível abatece veículo de cliente — Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Fonte: Externa

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