Os protestos marcados pela esquerda para este sábado (23) miram punição para o plano golpista atribuído a Jair Bolsonaro (PL) pela Polícia Federal e, ao mesmo tempo, relembram os 60 anos do golpe militar.
Parte dos organizadores das frentes Povo sem Medo e Brasil Popular ouvidos pela “Folha de S. Paulo” minimiza a decisão do governo, mas há também críticas à postura de Lula.
Parlamentares e dirigentes de partidos e entidades, incluindo a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), vão participar do ato em Salvador, no Largo do Pelourinho, às 15h. O governador anfitrião, Jerônimo Rodrigues (PT), vai comparecer.
Lula deve ficar no fim de semana em Brasília. Está previsto um ato na capital federal, mas mesmo a praticidade não deve atrair integrantes do primeiro escalão do governo.
Ministros do PT e de outros partidos de esquerda evitam falar que há uma posição fechada ou mesmo uma orientação para se distanciarem dos atos. Por outro lado, afirmam que não irão comparecer por motivos variados, como compromissos familiares e doenças.
Bolsonaro, por sua vez, reuniu milhares na avenida Paulista, no último dia 25, e pediu anistia aos presos pelo ataque golpista de 8 de janeiro de 2023.
Para evitar a comparação de públicos entre o ato bolsonarista e os protestos deste sábado, os organizadores buscaram evitar o mesmo padrão e escolheram o Largo São Francisco, em São Paulo, em vez da avenida Paulista, pulverizaram os eventos pelo país e concentraram esforços em Salvador, onde Lula teve mais de 70% dos votos contra Bolsonaro em 2022.
O distanciamento do governo, neste sentido, serve a vários propósitos. Além de não protagonizar a crítica à ditadura militar, o Palácio do Planalto evita compartilhar a responsabilidade em caso de eventual baixa adesão e busca se contrapor ao estilo de Bolsonaro, que, enquanto presidente, se empenhou em convocar apoiadores em atos de rua que miravam outros Poderes.
Com um ano e três meses de governo, Lula vê sua aprovação empatar tecnicamente com a rejeição no Datafolha. Consideram o trabalho do petista ótimo ou bom 35%, ante 33% que o avaliam como ruim ou péssimo e 30% como regular.
Em relação à pesquisa anterior, feita no começo de dezembro, as oscilações mostram um cenário negativo para o presidente.
“A mobilização de rua é a base fundamental. Não é para dar resposta a A ou B, é porque faz parte da dinâmica das organizações populares. Temos que relembrar a ditadura e chamar atenção para a responsabilidade como um todo”, diz à “Folha” Lucinha Barbosa, secretária de Movimentos Populares do PT.
Questionada sobre o distanciamento do governo nos atos de memória da ditadura, ela diz que não há frustração nem agonia e evita criticar Lula.
“O governo tem sua autonomia. Seria frustrante se as organizações populares não se mobilizassem. Mas o governo não. O governo tem que governar, fazer políticas públicas e fortalecer as organizações de base”, afirma.
Já Raimundo Bonfim, coordenador nacional da Central de Movimentos Populares (CMP), também ressalta a autonomia do governo, mas diz que seria importante que Lula participasse.
“Compreendo a preocupação do Lula de não tensionar com os militares, mas a melhor maneira de não tensionar e não deixar brechas como a do 8 de janeiro é lembrar o golpe sanguinário de 1964. Os movimentos têm obrigação moral de trabalhar esse tema. O governo, com todos os cuidados, também deveria, mas a gente respeita.”
A presidente da UNE, Manuella Mirella, diz ser “inadmissível” a proibição do governo de atos em alusão ao golpe.
“Não é um caminho que deve ser seguido. Temos sim que exigir punição para quem atacou a democracia tanto em 1964 como no 8 de janeiro. Não há anistia para quem ataca a democracia.”
Os protestos foram convocados por siglas de esquerda, como PT, PC do B, PV, Rede, PSol, PSB e PDT. E também de entidades como Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e União Nacional dos Estudantes (UNE).
Os atos têm quatro motes: ditadura nunca mais, em defesa da democracia, contra a anistia para golpistas e pelo fim do massacre em Gaza.
Os organizadores decidiram excluir a prisão de Bolsonaro das bandeiras; o argumento é o de que o direito de defesa e o devido processo legal têm de ser resguardados, assim como se reivindicava para Lula na Operação Lava-Jato.
De toda forma, o protesto vai cobrar responsabilidade de Bolsonaro pelo 8 de janeiro e pela discussão de uma minuta golpista.
“O mais importante é que a sociedade brasileira não esqueça [a ditadura]. Há um nexo direto entre a ditadura militar e os fatos políticos que movem a extrema direita hoje, uma tentativa golpista em curso”, afirma Rud Rafael, coordenador do MTST e representante da frente Povo sem Medo.
Cidades com atos marcados
- AL – Maceió – Calçadão do Comércio – 9h
- BA – Salvador – Largo do Pelourinho – 15h
- CE – Fortaleza – Praça do Ferreira – 8h30
- DF – Brasília – Praça Zumbi dos Palmares – 16h
- ES – Vitória – Praça Vermelha – 9h
- GO – Goiânia – Coreto da Praça Cívica – 14h
- MA – São Luís – Praça Deodoro – 9h
- MG – Belo Horizonte – Praça Afonso Arinos – 9h
- MS – Campo Grande – Praça do Rádio – 9h
- PA – Belém – Escadinha do Cais – 9h
- PB – João Pessoa – Praça da Lagoa – 15h
- PE – Recife – Praça do Derby – 10h
- PR – Curitiba – Praça Santos Andrade até Boca Maldita – 9h
- RR – Boa Vista – Praça Germano Sampaio – 17h
- RS – Porto Alegre – Largo Glênio Peres – 15h
- RO – Porto Velho – Praça Marechal Rondon – 17h30
- SC – Florianópolis – Em frente à Catedral – 16h
- SE – Aracaju – Em frente à Deso – 7h
- SP – São Paulo – Largo São Francisco – 15h
- SP – Osasco – Calçadão em frente ao Shopping – 13h
- Lisboa (Portugal) – Praça Luís de Camões – 10h30
- Barcelona (Espanha) – C/ Rocafort 242 – 14h