Em meio a anúncios de investidas em energia sustentável, a distribuidora de combustíveis Vibra (VBBR3) acredita que ainda há um longo caminho para a migração da matriz energética de combustíveis fósseis no Brasil. Ao IM Business, seu CEO, Ernesto Pousada, diz que a companhia seguirá o ritmo da demanda dos clientes por fontes renováveis e avalia que a energia fóssil deve perdurar por mais tempo no Brasil, em comparação a países desenvolvidos. “O Brasil é um país em desenvolvimento, com outras necessidades básicas a serem atendidas. Temos que equilibrar todos os pratos.”
Na avaliação do executivo, eventos como a guerra da Ucrânia têm impactado até mesmo a velocidade em que pares de países europeus empregam sua agenda de descarbonização. “Eles precisaram repensar algumas coisas, ficaram preocupados com segurança energética”, aponta. “Haverá momentos em que se acelera mais, momentos em que se reduz a velocidade. É difícil afirmar em que posição o Brasil vai ficar em relação aos outros [nessa agenda]”, completa.
“A Vibra está aqui para servir os clientes. Não adianta acelerar. A energia que ele quiser eu estarei lá para oferecer, e hoje o mundo precisa de combustíveis fósseis”, aponta o executivo. Ele entende que, no Brasil, haverá uma transição gradual na matriz energética, até em função de o país já possuir uma grande disponibilidade de fontes renováveis de energia, como o etanol, diferentemente de países desenvolvidos com maior dependência de diesel e gasolina.
Combustível de aviação sustentável
Embora esteja segura sobre sua estratégia de distribuição baseada em combustíveis fósseis e renováveis, a empresa tem investido em parcerias e M&As que visam novas iniciativas de inovação em descarbonização. Nesta semana, a distribuidora anunciou um programa de inovação para combustível de aviação sustentável (SAF, na sigla em inglês), junto à fabricante de celulose Suzano (SUZB3) e à empresa do setor de refino Galf. As três estiveram juntas no Web Summit Rio, nesta quarta-feira (17), para anunciar formalmente o negócio.
Por enquanto, há pouca definição sobre qual será o resultado final da parceria — que ainda pode contar com novos membros. Em 14 de maio, começam os primeiros encontros entre executivos e técnicos para avançar os termos para as pesquisas. Ainda está em aberto quais serão os limites da contribuição técnica que cada companhia deve fazer dentro dos acordos de confidencialidade. A expectativa é que até o fim de 2024 haja decisões sobre a colaboração de cada uma na iniciativa.
“Conforme essas conversas avancem, vamos discutir qual é o modelo de negócio que podemos ter lá na frente. Se faremos uma joint venture, uma dinâmica de que uma empresa forneça e outra venda. Tudo vai fazer parte do estudo”, diz Pousada. Em 2023, a linha de querosene para aviação representou cerca de 10% da receita bruta de vendas da companhia.
Redução de emissões
Em março deste ano, a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei que obriga companhias aéreas a reduzirem suas emissões de gases do efeito estufa. Elas deverão reduzir suas emissões em 1% em 2027 e elevar esse percentual no decorrer dos 10 anos seguintes, até chegar em 10% em 2037. O texto agora corre no senado, e a substituição do querosene de aviação tradicional pelo SAF é uma das principais apostas para o atingimento da meta.
Entre 2021 e 2022, os investimentos em transição energética feitos pela Vibra somaram R$ 4 bilhões, com aportes como a aquisição de 50% da geradora de energia solar e eólica Comerc e da produtora Zeg Biogás. A empresa assinou ainda um memorando de entendimento com a produtora de etanol Inpasa para estudar a manufatura de uma opção de metanol verde capaz de substituir o combustível para navios de transporte.
Em outra ponta, a empresa tem um CVC (corporate venture capital) com R$ 150 milhões disponíveis para alocação em startups menos atreladas ao negócio principal da empresa, como o carregamento elétrico. “Separando aquilo que temos mais certeza, mais próximo ao nosso core business, lançamos mão de um veículo como o CVC para fazer apostas”, diz o vice-presidente de Gente e Tecnologia, Aspen Andersem. “[No caso dos veículos elétricos] ninguém consegue dizer com certeza como vai ser o futuro, mas nós precisamos estar ali, dar os primeiros passos”, diz.
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