Entenda: Qual a lista de temas que Magda Chambriard vai observar nos primeiros passos à frente da Petrobras | Empresas

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por O Diretório
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A nova presidente da Petrobras, Magda Chambriard, tem uma relação de temas para observar nos seus primeiros passos no comando da estatal.

Eleita na sexta-feira (24) pelo conselho da companhia, a executiva terá que tratar de pautas como defasagem de preços de combustíveis, investimentos no refino e decisão de investimentos em novos projetos de transição energética.

De acordo com um antigo assessor da Petrobras que acompanhou a posse de um dos ex-presidentes, a primeira tarefa da nova gestão é escolher a equipe, especialmente quais funcionários de carreira são interessantes promover e trazer para a diretoria. Somente depois disso o novo presidente começa a analisar as pautas. Na visão dessa fonte, a última transição no controle da Petrobras parecia mais tranquila que a atual, com a entrada de Chambriard recebendo cobranças por diferentes alas do poder.

Sucessora de Jean Paul Prates, demitido após embates com alas do Planalto, Chambriard tem como principal missão o cumprimento do plano estratégico 2024-2028 da companhia, que prevê quase um terço a mais de investimentos em relação ao planejamento anterior, de US$ 102 bilhões nos próximos cinco anos.

Muitos dos itens da lista estão alinhados com os interesses do governo, mas alguns tenderiam a ganhar mais velocidade, conforme pretendido pelo controlador da petroleira, enquanto outros devem ter mudanças ou perder prioridade.

Confira abaixo a lista de assuntos que estarão na mesa da nova presidente da companhia:

Preços dos combustíveis

Chambriard não terá que lidar com a pressão de alterar a política de preços dos combustíveis, iniciativa que foi conduzida por Prates no ano passado. Mas, um ano após substituir o preço de paridade de importação (PPI) pela atual estratégia comercial, os preços da gasolina em maio deste ano ficaram 11,6% abaixo do verificado um ano antes, de acordo com cálculos do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep).

Os preços do diesel mantiveram-se estáveis, com alta de 0,5% no período, aponta o Ineep. Os preços do óleo diesel acumulam quase cinco meses sem mudanças, enquanto os da gasolina já totalizam sete meses sem alterações.

Ou seja, se por um lado Magda não terá que se desgastar na implantação de uma nova política de preços, por outro vai ter que lidar com críticas do mercado e de outros setores da sociedade sobre a defasagem dos preços dos derivados refinados pela estatal.

Dividendos extraordinários

O tema é um dos mais sensíveis para os investidores. Existe a preocupação de que os dividendos sejam reduzidos para ampliar os investimentos da companhia.

Embora Prates tenha modificado a fórmula de cálculo dos dividendos, reduzindo o limite mínimo para distribuição aos acionistas, de 60% para 45% do fluxo de caixa livre, o tema foi um dos principais motivos para a queda do antecessor de Chambriard. Sobras de lucros de 2023 que totalizaram R$ 43,9 bilhões foram destinadas a uma reserva de remuneração de capital em março. Prates propôs a distribuição de metade deste valor aos acionistas como dividendos extraordinários.

Foi voto vencido na ocasião. Ao ser deliberada a distribuição de dividendos ordinários relativos ao quarto trimestre, Prates absteve-se de votar. Porém, em abril, na Assembleia Geral Ordinária (AGO), a União optou por distribuir 50% do valor alocado na reserva, mantendo o restante na conta até dezembro, quando terá definido o destino dos recursos.

Após a demissão de Prates, a saída para os dividendos foi vista como uma “vitória de Pirro” do executivo. Caberá à gestão de Chambriard retomar as discussões sobre o destino desses recursos – se seguirá retido na reserva ou se será pago aos acionistas – mas a decisão final é do conselho.

O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) desobrigou a Petrobras de vender cinco refinarias que estavam na carteira de desinvestimentos, como parte do termo de compromisso de cessação (TCC) firmado em 2019. A iniciativa retira incertezas para a realização de investimentos voltados à ampliação da capacidade destas unidades.

A iniciativa fará com que os investimentos voltados à ampliação da capacidade de destas unidades tenham que ser feitos pela Petrobras ou via parcerias em alguns casos, como deve ocorrer na refinaria de Mataripe, na Bahia, controlada pelo Mubadala Capital, fundo de Abu Dhabi.

Com a decisão do Cade, saem da carteira de desinvestimentos as refinarias Repar (PR), Rnest (PE), Regap (MG), Refap (RS) e Lubnor (CE).

Uma das unidades liberadas é a Refinaria do Nordeste (Rnest), antiga Abreu e Lima, em Pernambuco. A unidade tem o primeiro trem de refino em fase de ampliação e está com licitação em andamento para a construção do segundo trem de refino, que aumentará a capacidade em 150 mil barris por dia. A previsão é que as obras do segundo trem sejam concluídas em 2028.

Além disso, a empresa poderá implantar projetos de produção de “diesel R”, fabricado por coprocessamento do combustível fóssil com matérias-primas de origem vegetal, nas unidades que seriam vendidas. Das refinarias que seriam desinvestidas, apenas a Repar produz diesel R5 (com 5% de adição de diesel renovável).

Outro projeto aguardado é o da implantação de unidades operacionais no polo Gaslub (antigo Comperj), para produção de óleos básicos, diesel S-10, com baixo teor de enxofre, e querosene de aviação (QAV). A Petrobras iniciou licitação recentemente.

Há na mesa da executiva o desfecho das negociações para o reingresso da estatal na refinaria de Mataripe, vendida em 2021 para o Mubadala Capital.

“O Brasil é um país continental, carente de cada vez mais energia para seu crescimento. Ou amplia-se a capacidade de processamento do petróleo cru e agrega-se valor a ele no Brasil (diga-se de passagem, que foi assim que a Petrobras cresceu) ou estar-se-á desembolsando cifras bilionárias para importar cada vez mais derivados, apesar da transição energética ser uma realidade no Brasil há décadas”, disse Chambriard em artigo à revista “Brasil Energia”, onde atuou como colunista, em fevereiro deste ano.

Investidores já começavam a questionar quando a Petrobras iria anunciar os primeiros projetos ligados à transição energética, quando Prates e a diretoria passaram a explicar que a avaliação de cada empreendimento pelas instâncias internas de governança envolve uma série de ritos. Além disso, por envolverem parceiros, a empresa assinou acordos de confidencialidade, que impedem quaisquer divulgações até a conclusão das análises.

A empresa aposta em aquisições ou no desenvolvimento de projetos de eólicas marinhas (offshore), de hidrogênio verde (cuja produção exige uso de energia renovável) e captura e armazenamento e carbono, além dos planos para biocombustíveis. A alegação é que a empresa terá que estar preparada para o momento em que o petróleo perderá mais espaço na matriz energética.

Com duas perfurações feitas em poços na Bacia Potiguar (RN), a Petrobras iniciou a exploração de campos localizados na Margem Equatorial, extensa área petrolífera localizada entre os Estados do Amapá e do Rio Grande do Norte. As atividades foram realizadas enquanto a Petrobras aguarda a emissão da licença ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para fazer o mesmo em poços localizados na Bacia da Foz do Rio Amazonas, no Amapá.

O Ibama alega a necessidade de realizar avaliação ambiental estratégica da área, o que não era exigido quando o bloco FZA-M-59 foi licitado, em 2012. A região é tida como promissora para a produção de óleo e gás, diante da proximidade com a Guiana, que nos últimos anos vem explorando megarreserva na mesma Margem Equatorial.

“É certo que não se pode ser inconsequente e licenciar a qualquer custo. Mas também é certo que se precisa estar mais preparado para enfrentar o desafio do licenciamento tempestivo, sob pena de condenar o Brasil à estagnação. O MMA não pode usurpar o poder de concessão da Presidência da República. É nesse contexto que se advoga a intervenção do Presidente da República. É ele que tem mandato para estabelecer as prioridades nacionais, em nome do povo, já que essas outorgas têm o aval do CNPE e da Presidência”, disse Chambriard em artigo à “Brasil Energia” em junho do ano passado, logo após o Ibama negar a licença.

Há um consenso na indústria de petróleo de que será “impossível” ter um conteúdo 100% local, especialmente na construção de plataformas. Atualmente, a empresa aposta em navios-plataforma (FPSO, na sigla em inglês). Desde a descoberta do pré-sal até as investigações da Operação Lava-Jato, a companhia apostava na frota própria e encomendou as novas unidades no Brasil. Denúncias de corrupção e problemas com prazos de entrega levaram a empresa a apostar num modelo de afretamento, que é baseado na contratação dos FPSOs de terceiros.

A empresa decidiu retomar o modelo de plataformas próprias e projeta 14 unidades para os próximos anos, com espaço para ampliar as encomendas em mais sete unidades. Executivos do segmento afirmam que países asiáticos, especialmente Cingapura e China, têm estaleiros que produzem cascos de navios em escala industrial, sendo imbatíveis em custos e produtividade.

Assim, o país tem apostado na fabricação dos módulos de produção dos FPSOs, mais “nobres”. O mercado tem indicado que os módulos previstos para atender à demanda futura da Petrobras seriam suficientes para movimentar a indústria naval por vários anos.

No entanto, a Petrobras também tem demandas por barcos de apoio. Além disso, a Transpetro tem interesse em ampliar a frota de navios, o que aumentaria ainda mais a demanda nos estaleiros. Prates envolveu-se no tema nos últimos meses: participou de mapeamento dos estaleiros nacionais, realizado pelo Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás, e realizou em Houston (EUA), neste mês, rodada de negociações com empresas nacionais e estrangeiras, na qual apresentou demanda futura.
25/05/2024 09:26:39

Fonte: Externa

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