Após um breve respiro, dólar continuou sua trajetória altista, terminando a quinta-feira (18) cotado a R$ 5,25, diante da perspectivas de juros mais elevados tanto lá fora quanto aqui no Brasil. Mesmo pressionando diversas moedas, a depreciação do real frente à moeda americana é considerada uma das mais fortes, frente a outras divisas.
De acordo com Bruno Monsanto, economista e assessor da RJ+Investimentos, a escalada da moeda e a “super-depreciação do Real” podem ser explicadas por diversos fatores, como a redução do diferencial de juros e o quadro fiscal considerado “preocupante” no Brasil.
O especialista também comenta o fluxo de saída de capital estrangeiro da Bolsa, superior a R$ 22 bilhões no primeiro trimestre de 2024, como um dos pontos que contribuem para o cenário atual.
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Beneficiadas
Para alguns setores, no entanto, a divisa norte-americana em patamares mais elevados oferece vantagens, considerando as características da operação e a oferta de produtos e serviços.
“Setores como mineração, proteínas e papel e celulose são exemplos que podem se beneficiar. Empresas como Vale (VALE3), Suzano (SUZB3), Marfrig (MRFG3), Gerdau (GGBR4), até mesmo a Embraer (EMBR3), são players positivamente impactados pela alta da moeda”, destaca Pedro Marinho Coutinho, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital.
Mais impactadas
O panorama é mais complicado entre companhias que mantém dependência de matéria-prima proveniente do exterior ou, ainda, que apresentam estoque de oferta e produtos diretos por meio de itens importados.
Alguns nomes que têm apresentado desempenho negativo nos últimos dias, como Azul (AZUL4) e Lojas Renner (LREN3), integram setores mais impactados negativamente pela dinâmica da moeda americana.
“O setor de varejo, por exemplo, pode ser diretamente afetado com um choque do dólar, principalmente os ligados a eletrônicos, além de ainda ter que lidar com um possível pass-through relevante do câmbio, que poderia segurar o consumo, dada a pressão inflacionária. O setor de aviação pode sofrer também, já que o custo dos combustíveis pode aumentar ao longo do tempo”, afirma Marinho.
No caso da Azul, conforme destaca Enrico Cozzolino, sócio e head de análise da Levante Investimentos, o negócio da aviação já opera com margens muito baixas. Assim, as oscilações da moeda estrangeira causam repercussão de forma rápida, considerando o custo de 40% da receita diretamente com querosene.
As tensões geopolíticas, portanto, que têm afetado a moeda também, causam impacto direto no setor de aviação, que acaba sendo duplamente prejudicado. “É um dos principais pontos numa companhia aérea, junto com o querosene de aviação, que também tem essa pressão geopolítica de uma eventual alta de petróleo”, pontua Cozzolino.
Outro ponto a ser considerado é a presença de dívida em dólar, sem estrutura de hedge bem definida, conforme explica Marinho. Nesses casos, as companhias podem sofrer com aumento de custos financeiros, impactando tanto a liquidez quanto o balanço.
“Alguns exemplos de empresas nesse caso que podem sofrer são Hypera (HYPE3), Lojas Renner, Gol (GOLL4) e Azul”, afirma.