Dólar a R$ 6 foi resultado de barulho interno, diz Mansueto | Finanças

O Diretório
por O Diretório
5 Leitura mínima

A alta dos juros, a desvalorização do real e a pressão inflacionária sobre a economia brasileira são resultado de um “barulho interno” que o governo gerou com incertezas sobre o compromisso de realizar um ajuste fiscal efetivo. É o que avalia o ex-secretário do Tesouro Nacional e economista-chefe do BTG Pactual, Mansueto Almeida.

Para o economista, o governo deu ao mercado uma série de sinais trocados sobre o ajuste fiscal, o que contribuiu, segundo ele, para a saída de US$ 50 bilhões da bolsa no ano passado. Segundo Mansueto, porém, o movimento não deve se repetir em 2025. “Quem tinha que sair já saiu”, disse.

O ex-secretário também comentou a eleição de Donald Trump para os Estados Unidos e disse que o cenário internacional está mais incerto com a chegada do republicano à Casa Branca. No cenário doméstico, porém, ele atribuiu o câmbio desfavorável a movimento políticos internos.

“A piora tão grande que teve de juros, de inflação e da nossa moeda perder valor foi por causa do barulho interno que a gente criou”, disse. E completou: “Se a gente descontar o que foi de barulho interno, era para o câmbio estar hoje em R$ 5,40, R$ 5,50. Ele está em R$ 6 por causa desse barulho doméstico que a gente criou.”

Na quinta-feira (23), o dólar fechou cotado a R$ 5,92, abaixo dos R$ 6 pelo segundo dia consecutivo. É o menor nível registrado pela moeda americana desde novembro do ano passado. Hoje, o dólar cai ainda mais, em torno de R$ 5,90, com o alívio global causado pelo fato de Trump ainda não ter imposto nenhuma tarifa às importações, como vinha ameaçando.

O economista do BTG elencou as medidas que frustraram o mercado e destacou, entre elas, a apresentação do pacote fiscal ao Congresso Nacional, que incluiu a proposta de isenção do Imposto de Renda (IR) até R$ 5 mil e a criação do Auxílio Gás em meio às discussões do orçamento para 2025.

“O maior crítico ao ministro da Fazenda [Fernando Haddad] é o seu próprio partido político. Para quem está do lado de fora, fica a sensação de que a área econômica está em uma luta inglória que não tem respaldo da base política do governo”, disse.

Ainda segundo Almeida, a falta de um consenso sobre o assunto pode contribuir para elevar a inflação: “O ajuste é, por natureza, um debate político. Se a gente não tiver um consenso político em algum momento, o ajuste fiscal será feito na marra, pela inflação maior.”

O economista do BTG defendeu, porém, que o ajuste não deve ser feito a partir de um aumento da carga tributária e, sim, por meio da redução das despesas. Ele também criticou meios artificiais de ajustar as contas públicas.

“O que não se pode é fazer um ajuste fiscal tirando despesas públicas do orçamento para artificialmente melhorar as contas. A gente já passou por isso e o mercado não aceita”, disse Almeida, que chefiou o Tesouro Nacional no governo de Michel Temer (MDB).

O economista-chefe do BTG chamou atenção para o crescimento acelerado da dívida pública e disse que é preciso uma previsão sobre quando ela irá começar a cair. Apesar de afirmar que o cenário não se aproximou do verificado dez anos antes, o ex-secretário ressaltou que a economia poderia estar melhor dado o pleno emprego e o aumento da renda dos trabalhadores.

“Nos últimos dois anos, o Brasil cresceu 3,2% e 3,5%. Este ano e no próximo, o crescimento deve ficar entre 1,5% e 2%. É um crescimento menor? Sim. É recessão? Não é recessão”, disse.

Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG e ex-secretário do Tesouro Nacional — Foto: Ruy Baron/Valor

Fonte: Externa

Compartilhe esse artigo