Recordes vêm se renovando mês a mês para indicadores como pessoal ocupado e número de trabalhadores nos setores privado e público, por exemplo. O setor formal vem exercendo papel de destaque na expansão das vagas este ano, ainda que acompanhado pelo setor informal. A remuneração também avança, com novos patamares para a massa de rendimentos.
A expectativa entre economistas é de que o dinamismo do mercado deve continuar nos próximos meses, movimento favorecido ainda pelo tradicional aquecimento desta época do ano, com contratações por fatores como Black Friday e festas de fim de ano.
Um ponto de alerta, no entanto, é o comportamento da taxa de juros. O Banco Central interrompeu a queda em junho e retomou a alta da Selic em setembro. Há quem acredite que o movimento pode ter impacto na trajetória do mercado de trabalho a partir do fim de 2024 e início de 2025.
“A taxa [de desemprego] deve bater a mínima histórica, provavelmente, na divulgação para dezembro. Isso mostra que as sinalizações de desaceleração em julho foram pontuais”, afirma o economista da LCA Consultores Bruno Imaizumi. A consultoria projeta taxa de desemprego de 6,5% no terceiro trimestre e próxima a 6% no fim do ano.
Os dados da Pnad Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostraram que a taxa de desemprego caiu para 6,6% no trimestre encerrado em agosto – a menor para o período de toda a série histórica da pesquisa, iniciada em 2012. O menor patamar para qualquer um dos trimestres da pesquisa foi alcançado no quarto trimestre de 2013, quando estava em 6,3%.
“A baixa desocupação reflete a expansão da demanda por trabalhadores em diversas atividades econômicas, levando a taxa de desocupação para valores próximos ao de 2013, quando esse indicador estava em seu menor patamar”, diz a coordenadora das pesquisas domiciliares do IBGE, Adriana Beringuy.
Geralmente cautelosa para avaliar a situação do emprego, Beringuy usou expressões como mercado de trabalho aquecido e cenário de crescimento generalizado para classificar o momento atual, ao divulgar os dados para o trimestre encerrado em agosto.
O período foi de recordes em diferentes indicadores. Pela Pnad Contínua, a população ocupada cresceu 1,2% frente ao trimestre anterior e alcançou 102,5 milhões. O número de empregados no setor privado avançou 1,7% ante o trimestre anterior, para 52,9 milhões. Já o número de empregados no setor público atingiu 12,7 milhões), alta de 1,8% no trimestre.
Dentro do setor privado, houve recordes tanto no contingente dos trabalhadores com carteira de trabalho (38,6 milhões) quanto no daqueles sem carteira de trabalho (14,2 milhões). O número de trabalhadores informais – 39,826 milhões – e a massa de rendimentos – R$ 326,2 bilhões – também atingiram níveis inéditos.
O Ministério do Trabalho e Emprego divulgou ainda os resultados do Caged, que mostrou criação de 232.513 vagas com carteira assinada em agosto e abertura líquida de 1,726 milhão de vagas formais de janeiro a agosto de 2024.
Na avaliação do economista da AZ Quest Lucas Barbosa, os dados de agosto mostram um mercado de trabalho que continua robusto, mas também dinâmico, com crescimento disseminado, percentual de formalidade em alta e salários ganhando tração.
Os dados trazem um viés de baixa para a projeção de 6,8% da gestora para a taxa de desemprego no fim do ano. O dinamismo, diz ele, é a chave para tentar entender a diferença em relação ao passado.
“Há cerca de dez anos, com taxa de desemprego semelhante, havia grande reclamação sobre pressão de salários, algo que não vemos hoje no mesmo nível”, nota.
O cenário de aquecimento do mercado de trabalho, com aceleração do saldo líquido positivo em empregos formais e massa total de rendimentos avançando corrobora a preocupação com a inflação, principalmente em serviços, e seus efeitos na política monetária, diz o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) Rodolpho Tobler.
O mercado de trabalho ainda segue sob impacto do dinamismo econômico da primeira metade do ano, mas pode desacelerar na virada para 2025, sob impacto da alta de juros, estima ele. A tendência é que “a atividade dê uma certa esfriada”, com efeito no mercado de trabalho, embora isso não seja observado agora.
“Mas a tendência é que haja uma desaceleração até o fim de 2024, ainda com resultados positivos sazonalmente para o mercado de trabalho no fim do ano, período importante para o comércio e serviços. Na virada de 2024 para 2025, já devemos ter um ritmo um pouco mais brando. Acho que é difícil imaginar continuar nesse ritmo no mercado de trabalho que estamos observando”, afirma.