Dieta detox funciona? Veja o que especialistas dizem

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Depois de períodos de exagero alimentar – como festas de fim de ano, férias e até finais de semana –, muitas pessoas buscam maneiras de compensar os abusos. Populares na internet, as dietas detox muitas vezes surgem como a solução. Segundo seus defensores, a estratégia ajuda a eliminar o excesso de toxinas do corpo, desinchar e promover a perda de peso.

Existem muitas variações do método, mas, normalmente, elas incluem a ingestão de sucos verdes e sopas, além da restrição de certos tipos de alimentos, como leite e derivados e fontes de açúcar e glúten. Em alguns casos, são recomendados também suplementos diuréticos e laxantes para ajudar a eliminar as toxinas. Mas, afinal, a tal dieta detox funciona?

A chamada dieta detox costuma ser baseada no consumo de sucos verdes e sopas. Foto: fahrwasser/Adobe Stock

Em primeiro lugar, é importante esclarecer que entramos em contato com substâncias possivelmente nocivas de várias formas – através da alimentação, da inalação e até do contato com a pele. A ingestão de álcool, por exemplo, leva à formação de acetaldeído no organismo, um componente extremamente tóxico às células. Mas o nosso organismo possui mecanismos próprios para lidar com essa situação.

De acordo com Roberto de Carvalho, médico hepatologista e professor de gastroenterologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), contamos com dois principais sistemas de eliminação natural de substâncias indesejadas. “Isso se dá pela urina, ou seja, pela função renal, e também pelo fígado, que produz a bile, secreção que sai do intestino junto com as fezes”, diz. Nesses processos, eliminamos não só as substâncias que vêm de fora, mas também aquelas produzidas internamente.

Se uma pessoa não apresenta nenhum problema de saúde, o corpo consegue metabolizar e se livrar dessas substâncias espontaneamente – mesmo em situações em que acabamos comendo ou bebendo mais do que deveríamos. “Pode ter um momento inicial em que o corpo demora um pouco mais a detoxificar todas aquelas substâncias ingeridas, mas ele vai acabar dando conta”, garante o nefrologista Pedro Túlio Rocha, diretor da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN).

“O problema maior é quando a pessoa já tem algum grau de lesão hepática ou renal. Aí, pode acumular toxinas relacionadas à alimentação”, explica Rocha. Mas, mesmo nessas circunstâncias, os especialistas ressaltam que não há alimento salvador.

Segundo Carvalho, a verdade é que não existe evidência científica de que qualquer tipo de dieta considerada detox seja capaz de aumentar a funcionalidade dos rins ou do fígado.

Agora, quem adota esse tipo de dieta de fato costuma observar uma rápida perda de peso. Ela ocorre devido ao baixo teor calórico desse padrão alimentar. Porém esse efeito costuma ser pouco duradouro, conforme alerta a nutricionista Ana Maria Lottenberg, membro da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) e coordenadora do curso de Nutrição do Hospital Israelita Albert Einstein. “Qualquer déficit calórico vai trazer esse resultado. Mas, quanto mais radical for a dieta, maior é a velocidade de reganho de peso depois”, informa.

Ela também desmente a necessidade de cortar certos alimentos pelo bem da saúde. “O glúten não traz qualquer problema para o indivíduo que não tenha doença celíaca. E o leite é uma importante fonte de cálcio. Ele só deve ser retirado por quem tem intolerância à lactose”.

Riscos e contraindicações

Ironicamente, dietas detox baseadas no consumo de sucos verdes podem favorecer o acúmulo de oxalato nos rins. Essa substância está presente em vegetais verde-escuros, como couve e espinafre, usados nessas bebidas. O quadro é raro, mas vale ser mencionado. “Geralmente, o rim é capaz de excretar uma carga de oxalato, mas, em alguns indivíduos já com um grau de lesão nesse órgão ou com alguma condição intestinal que aumenta a absorção de oxalato, pode ocorrer piora da função renal devido ao acúmulo dessa substância”, descreve Rocha.

Quando há a inclusão de suplementos alimentares, aumentam os riscos de complicações. “Porque a pessoa vai ingerir substâncias químicas que não são naturais e podem ser nocivas para o organismo”, explica Carvalho. De acordo com o médico, essas substâncias podem causar inflamação no fígado e intoxicação em diferentes graus, levando a sintomas como enjoo, vômito, dor de estômago e pele amarelada.

Embora a dieta detox inclua uma variedade de frutas, hortaliças e legumes, Ana Maria aponta que a maneira de ingestão faz diferença. “Consumir uma variedade de alimentos é muito saudável. Fazer um tratamento à base dos sucos desses alimentos não”, resume. “Quando você consome esses ingredientes na forma de sucos, que muitas vezes são coados, você perde grande parte das fibras”, ensina.

Mas, então, o que pode ser feito após uma temporada de exageros à mesa? Ana Maria indica basicamente manter uma alimentação equilibrada e beber bastante líquido – preferencialmente água –, o que favorece a diurese, ou seja, a eliminação natural de substâncias tóxicas do corpo por meio da urina.

Fonte: Externa

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