Custo para política monetária se torna maior sem âncora fiscal com credibilidade, diz Campos Neto | Finanças

O Diretório
por O Diretório
4 Leitura mínima

Se houver a percepção de que não existe âncora fiscal, porque a âncora fiscal e a âncora monetária têm que trabalhar juntas, torna o trabalho do banco central mais difícil, disse o presidente do BC brasileiro, Roberto Campos Neto, durante evento em Nova York.

O presidente do BC ressaltou, porém, que o mercado “teve um número muito pior para o fiscal do que a meta que realmente foi adotada”. Conforme Campos Neto, “eu venho dizendo há muito tempo que a ideia não é mudar as metas e garantir que você faça o máximo que puder em termos de esforço para atingir essa meta”. Mas “se, por algum motivo, tiver que fazer um desvio, é muito importante se comunicar bem, porque se as pessoas perderem a confiança na âncora fiscal, a âncora monetária será afetada”.

O fato de os EUA estarem adiando o início do ciclo de afrouxamento monetário e as expectativas se consolidando em torno de uma taxa no fim do ciclo mais alta por lá começam a chamar a atenção para as dívidas dos principais países desenvolvidos, afirmou o presidente do BC.

“Quando olhamos para o que aconteceu nos EUA, durante algum tempo, as pessoas pensaram que os cortes nas taxas começariam em março. E quando isso decepciona, basicamente você tem o efeito de uma janela se movendo no tempo, e até recentemente, agora que os dados estão decepcionando [vindo mais fortes que o esperado], têm um efeito de mudar a taxa terminal.”

Na visão do dirigente, “houve uma reprecificação enorme de taxas, mas o que devemos observar e que, provavelmente, se tornará a próxima grande questão, é que estamos prestes a iniciar um debate sobre a dívida global”.

Conforme o presidente do BC, “o fato de os EUA agora estarem adiando o ciclo, mas também terem uma taxa terminal mais alta, vai fazer as pessoas falarem da dívida”. O chefe da autoridade brasileira citou que os maiores blocos de economias avançadas – Japão, Europa e EUA – têm uma dívida soberana que representa uma proporção muito grande da dívida total global.

“Se você olhar o fato de que eles pagavam perto de 1% [antes do período de volta da inflação] na rolagem da dívida, e, se isso for para 3%, significa um custo três vezes maior na maior dívida do planeta. Então acho que o próximo assunto que a gente vai falar daqui a pouco não é mais sobre a janela da inflação. No ano passado, quando ninguém falava sobre isso, mencionamos que não víamos os processos de desinflação tão tranquilos como algumas pessoas disseram. Mas agora os agentes estão precificando até certo ponto que o ciclo vai atrasar um pouco. A próxima questão é o que acontece com a dívida total.”

Conforme Campos Neto, “o fiscal está se tornando cada vez menos coordenado com o monetário [na maior parte do mundo]”. Para o dirigente, quando entramos na pandemia, foi muito fácil de coordenar as respostas. “Você aumenta os gastos e reduz as taxas”, disse.

“Mas a saída está sendo muito difícil de coordenar. E não há nada mais permanente do que um programa temporário de despesas. Isso foi uma frase que emprestei do Milton Friedman. Mas você vê isso em muitos lugares diferentes, e acho que isso se tornará um problema.”

O presidente do Banco Centra, Roberto Campos Neto — Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo

Fonte: Externa

Compartilhe esse artigo