Organizações da sociedade civil temem que a intensificação de conflitos geopolíticos no Oriente Médio desvie a atenção do G20 para a luta contra desigualdades e mudanças climáticas, dois eixos principais da agenda do Brasil durante a presidência do G20. Trinta grupos – dentre eles, B Lab, Skoll Foundation, Catalyst 2030 – enviaram na tarde de segunda-feira (15) carta ao sherpa do Brasil no G20, Mauricio Lyrio, e outras lideranças brasileiras no grupo com um apelo para que foquem em um sistema econômico mais inclusivo e equitativo.
“A expectativa é que a carta seja compartilhada com os demais sherpas e lideranças internacionais a fim de sensibilizá-los de que não podemos colocar os temas estruturais de forma secundária em virtude da tensão crescente e ampliada no Oriente Médio”, afirma Marcel Fukayama, cofundador da Din4mo, organização idealizadora do G20 pelo Impacto, e membro do Conselho da Presidência da República.
“Nosso país tem a responsabilidade de pautar temas críticos, como combate às desigualdades e emergência climática, que correm o risco de serem secundários em meio a um conflito dessa proporção. A carta busca sensibilizar as lideranças do G20 de que os desafios estruturais devem permanecer na agenda.”
No último encontro ministerial do G20, no fim de fevereiro, a presidência do Brasil não conseguiu declaração oficial conjunta porque falta de consenso em torno das expressões “guerra à Ucrânia” (“on Ukraine”, posição defendida pelo G7) e “guerra na Ucrânia” (“in Ukrane”).
Fukayama teme que o encontro desta semana seja ainda mais tenso, em decorrência dos ataques do Irã contra Israel, com chances de a presidência do Brasil no G20 ser cooptada por questões geopolíticas.
“O atual modelo econômico está esgotado e os compromissos globais, como o Acordo de Paris e a Agenda 2030, estão próximos de fracassar”, afirma. Ele alerta que a relação entre mudanças climáticas e desigualdade tem sido cada vez mais crescente.