Campos Neto quer sucessor no tempo certo, não antecipado | Finanças

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por O Diretório
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Ambos os nomes foram anunciados em fins de outubro, com tempo hábil para sabatina e aprovação pelo Senado. A confirmação em plenário ocorreu em 12 de dezembro de 2023, o que permitiu um período de quase três semanas para os antigos diretores fazerem a transição.

Participantes do mercado financeiro, em conversas fechadas com membros do Banco Central, têm defendido que a indicação seja feita o quanto antes, segundo eles para retirar uma incerteza que prejudica a ancoragem das expectativas de inflação na meta.

Uma fonte do Ministério da Fazenda diz que a intenção “não é antecipar tanto assim”. Sobre a chance de o nome ser apontado antes de outubro, essa fonte disse que “ainda há bastante tempo para avaliar” a estratégia.

O que Campos Neto quer evitar é a repetição do que aconteceu no caso da diretoria de política monetária, quando houve um hiato. O mandato do antigo titular, Bruno Serra, terminou em fevereiro de 2024, e ele chegou a prorrogar a sua permanência por um mês, à espera da indicação de um substituto. A indicação de Gabriel Galípolo, o atual titular, só ocorreu em maio, e a aprovação pelo Senado, em julho.

Em tese, se o nome do substituto de Campos Neto não for aprovado em tempo, ele poderia seguir no cargo, conforme previsto na Lei Complementar n° 179, de 2021. Esta lei, que deu independência operacional ao BC, diz expressamente que o prazo de gestão do presidente e dos diretores será estendido até a investidura do sucessor no cargo.

Serra prorrogou a sua permanência por um mês, mas Paulo Souza, titular de Fiscalização, ficou até a chegada de seu sucessor, Ailton de Aquino, em julho.

Mesmo antes da independência, o Banco Central tinha a tradição de fazer transições suaves. O antecessor de Campos Neto, Ilan Goldfajn, que foi indicado pelo ex-presidente Michel Temer, ficou no cargo até 28 de fevereiro de 2019, já no mandato de Jair Bolsonaro, à espera da aprovação de seu sucessor no Senado. O ex-presidente do BC Alexandre Tombini seguiu no cargo mesmo depois do afastamento da ex-presidente Dilma Roussef, fazendo a transição de cargo para Ilan.

Campos Neto, porém, dá sinais de que não gostaria de seguir no cargo no começo do ano que vem. Em evento realizado na quarta-feira pelo banco Bradesco BBI, ele discorreu sobre as dificuldades de um diretor interino substituí-lo: nesse caso, seria preciso uma aprovação no Senado.

O principal inconveniente de indicar o sucessor de Campos Neto com muita antecedência é que esse nome estaria exposto a maior escrutínio durante a transição, sobretudo os dois diretores da casa que estão na bolsa e apostas, Galípolo e Piccheti.

Galípolo é um dos favoritos porque tem uma interlocução direta com o presidente Lula e bom relacionamento com o Congresso. Desde que assumiu o cargo, vem ganhando a confiança de participantes do mercado por seu alinhamento com a estratégia de política monetária.

Piccheti é amigo pessoal do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e muito respeitado por seus pares economistas e pelo mercado financeiro.

O desafio é manter o apoio do presidente Lula até a data da indicação. Até agora, os diretores do Banco Central indicados fizeram apenas bondades na política monetária, com o ciclo de corte da taxa básica desde agosto do ano passado. Em algum momento daqui até o fim do ano, o Banco Central terá que desacelerar e possivelmente até interromper o ciclo de baixa da taxa Selic.

Se a indicação for feita com muita antecedência, o escolhido poderá também ser cobrado por funcionários que se opõem à autonomia administrativa e orçamentária do BC, que têm influência nas correntes sindicais do governo e Congresso.

O sistema de mandatos intercalados garante certa continuidade na sucessão, pelo menos na política monetária. O diretor de política econômica, Diogo Guillen, responsável pelos modelos e documentos oficiais do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, tem mandato até 31 de dezembro de 2025.

Além de Campos Neto, neste ano terminam os mandatos de Carolina Barros (relações institucionais) e de Otávio Damaso (regulação). Em tese, ambos podem ser reconduzidos.

Damaso é o mais antigo membro da diretoria colegiada do BC. Ele foi indicado pela ex-presidente Dilma e aprovado pelo Senado em abril de 2015, na gestão Tombini. Carolina Barros foi indicada pelo ex-presidente Temer, e aprovada pelo Senado em abril de 2018, na gestão Goldfajn.

Ambos votaram no ano passado com a maioria, com Campos Neto e Galípolo, para iniciar o ciclo de corte de juros com uma baixa de 0,5 ponto percentual, em vez de 0,25 ponto. Além de Guillen, os dissidentes incluíram também Renato Gomes (organização do sistema financeiro), cujo mandato vai até 31 de dezembro de 2025.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto — Foto: Andre Coelho/Bloomberg

Fonte: Externa

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