O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, voltou a falar nesta sexta-feira, em Washington, que o a inflação medida pelo IPCA do mês passado foi uma “boa surpresa”. Mas que apesar disso ser importante, o Copom não decide a Selic com base em apenas um número.
Em evento para investidores organizado pelo Bank of America (BofA), Campos Neto disse que a reprecificação do mercado ocorreu principalmente devido ao cenário externo, mas creditou uma parcela à alteração da meta fiscal do Brasil, anunciada na segunda-feira pelo governo federal.
“O cenário externo não tem relação mecânica com a política monetária no Brasil. Precisamos de tempo para compreender o que a reprecificação de ativos significa para nós e para a nossa função de reação”, disse o presidente do BC.
Campos Neto reafirmou que a perseverança nas metas econômicas são importantes. Ele ainda disse que, na eventualidade de taxas de juros mais altas por mais tempo, o tema fiscal e o nível de dívida podem ganhar importância: “Parece haver alguma evidência de que parte da reação do mercado e do aumento do prémio de risco estava relacionada com o fato de o governo ter alterado as suas metas fiscais. A reação do mercado parece dizer que precisamos observar como a reavaliação (da meta fiscal) afeta nossa função de reação. Quando você tem uma piora na percepção da âncora fiscal, isso aumenta o custo da ancoragem no lado monetário”, disse.
O presidente do BC ainda falou que o Federal Reserve (Fed) mudou sua narrativa diante de dados econômicos mais fortes que o esperado e que “não vê problema” caso a autoridade monetária americana demore um pouco mais para começar a cortar os juros.
“Os EUA têm uma boa história, pois a desinflação está estacionando um pouco, mas eles estão (com a atividade) forte”, disse.
Ele avalia que a inflação americana pode levar um pouco mais de tempo para convergir para um patamar mais baixo. E vê um aumento das incertezas. “O ambiente global permanece volátil com debates sobre o início do ciclo de afrouxamento das principais economias”, disse.
Campos Neto está nos Estados Unidos para as reuniões de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial. Mais cedo, ele participou de debates sobre o futuro do sistema financeiro e a fluxos de capital.