Levou apenas pouco mais de três meses para o Brasil bater, em 2024, o recorde de ano mais letal por dengue da série histórica mantida pelo Ministério da Saúde. Segundo atualização do Painel de Monitoramento de Arboviroses, do governo federal, nesta segunda-feira (08), já são 1.116 mortes pela doença até agora, além de outras 1.593 suspeitas em investigação.
Porém, um diferencial deste ano é a rapidez com que o número foi alcançado: tanto em 2022 como em 2023, o recorde foi batido oficialmente apenas em dezembro, com o resultado da análise de diversos casos que estavam em investigação.
A velocidade agora reflete a alta histórica de casos que o país vive neste ano. De acordo com a última atualização do painel, já foram 2,7 milhões de diagnósticos até agora, também o maior número já registrado num ano.
Em relação ao ano passado, por exemplo, o último informe mais detalhado do Ministério da Saúde mostra que os casos até o dia 30 de março eram 344% superiores aos do mesmo período do ano passado.
“Essa explosão de casos de dengue e o consequente aumento no número de mortes no Brasil podem ser atribuídos a um conjunto de fatores. Primeiramente, variações climáticas, incluindo períodos de chuva intensa seguidos de calor, que criam condições ideais para a proliferação do Aedes aegypti. Além disso, a urbanização desordenada e a inadequada gestão de resíduos sólidos em algumas regiões facilitam o acúmulo de água parada, onde os mosquitos se reproduzem”, diz Leonardo Weissmann, infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, e professor da Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp).
“Outro aspecto preocupante é a possibilidade de circulação de diferentes sorotipos do vírus da dengue no país. Existem quatro sorotipos do vírus, e a infecção por um deles não garante imunidade aos outros. Adicionalmente, a pandemia da covid-19 pode ter desviado recursos e atenção do controle de doenças transmitidas por vetores, como a dengue, exacerbando o problema. A redução nas atividades de controle de mosquitos e nas campanhas de conscientização durante os últimos anos pode ter contribuído para o cenário atual”, continua ele, que é mestre em Doenças Infecciosas e Parasitárias pela USP.
O informe do Ministério da Saúde destacou ainda que 10 Estados (AC, AP, GO, ES, MG, PR, RJ, RS, SC e SP) e o Distrito Federal, além de 465 municípios, decretaram emergência pelo avanço da doença.
As projeções da pasta apontam para um cenário em que o país pode chegar a inéditos 4,2 milhões de diagnósticos até o fim do ano.
Porém, na última coletiva de imprensa para falar sobre o cenário epidemiológico da dengue, na quarta-feira (3), a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do ministério, Ethel Maciel, afirmou que 20 Estados começam a apresentar tendência de estabilidade ou queda da dengue.
De acordo com a análise da pasta, Amapá, Ceará, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Rondônia, Rio Grande do Sul e Tocantins sinalizam estabilidade. Já a tendência de queda foi observada no Acre, Amazonas, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Piauí e Roraima, além do Distrito Federal.
Por outro lado, há um aumento em Alagoas, Bahia, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe.
“Tradicionalmente, a incidência da dengue no Brasil segue um padrão sazonal, intensificando-se nos meses mais quentes e úmidos, que favorecem a reprodução e a atividade do Aedes aegypti, o mosquito transmissor da doença. Contudo, a previsão de uma redução significativa no número de casos não é garantida apenas pela mudança de estação. Fatores como o nível de imunidade da população, a eficácia das campanhas de prevenção, o controle do vetor e as variações climáticas desempenham papéis cruciais. Portanto, embora possa haver uma esperança cautelosa de que a curva de casos e mortes por dengue comece a declinar, tal expectativa deve ser acompanhada de esforços contínuos de vigilância, prevenção e tratamento adequado dos pacientes afetados pela doença”, avalia.