A ministra da Saúde, Nísia Trindade, começou a promover mudanças em sua equipe num momento de crise nos hospitais federais do Rio. No início da noite, a pasta anunciou a demissão do diretor do Departamento de Gestão Hospitalar (DGH), Alexandre Telles. E, de acordo com fontes do governo, a queda do secretário nacional de Atenção Especializada à Saúde, Helvécio Magalhães, “é uma questão de tempo” e deve sair no Diário Oficial da União (DOU) desta terça-feira.
Nísia protagonizou alguns dos momentos mais marcantes da reunião ministerial. Ela foi um dos poucos ministros a falar entre os 37 presentes ao encontro, no Palácio do Planalto — o chanceler Mauro Vieira, em viagem ao exterior, não compareceu.
Em sua exposição, abordou temas como a crise sanitária dos yanomami, a epidemia de dengue e a crise nos hospitais federais do Rio, que foram objeto de uma matéria do Fantástico, da “TV Globo”, no último domingo.
Segundo relatos, a ministra se queixou das pressões que vem sofrendo desde o início do mandato de Lula por conta do Centrão. O grupo, hoje liderado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), cobiça o controle da pasta por ser um dos maiores orçamentos da Esplanada.
Sobre afirmações de que é pouco combativa, Nísia disse que não vai “falar grosso”, porque esse não é seu estilo. Nesse momento, ela se emocionou e chorou. Ao concluir sua fala, foi aplaudida longamente pelos colegas.
Quase no fim do evento, Lula tomou a palavra e se dirigiu à ministra. Disse a ela que “falar grosso não é falar alto” e reafirmou ainda que não irá demiti-la. O presidente disse ainda a Nísia, e aos ministros em geral, que gostaria de tomar conhecimento de crises, como a dos hospitais federais, antes que elas estourem.
Em tom de cobrança, Lula afirmou ainda que o problema nos hospitais federais do Rio já vem sendo identificado desde o ano passado e que providências já deveriam ter sido adotadas para mitigar a crise.
Por fim, o petista disse que Nísia, como todos os ministros, tem autonomia para demitir qualquer pessoa que não esteja trabalhando bem, independentemente de quem a tenha indicado.
Essa última fala foi interpretada por fontes na Esplanada como uma “senha” para que a ministra promovesse as mudanças que achasse necessárias em sua pasta a fim de resolver o problema da Saúde no Rio.
Horas depois, o Ministério da Saúde anunciou a demissão de Alexandre Telles. Em seu lugar, assumiu Maria Aparecida Braga, atual superintendente do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro, que acumulará as duas funções.
“A mudança ocorre diante da necessidade de transformação na gestão do DGH. Na última sexta-feira, foi criado um comitê gestor a fim de orientar e praticar atos de gestão relativos aos hospitais federais”, disse a pasta em nota.
“O Ministério da Saúde reforça seu compromisso em estabelecer as ações necessárias e empenhar todos os esforços para a reconstrução e fortalecimento dos Hospitais Federais, para que toda a população do Rio de Janeiro tenha acesso à saúde pública de qualidade.”
Fontes do governo dizem que Nísia demitirá também o secretário nacional de Atenção Especializada à Saúde, Helvécio Magalhães. Ele apareceu na reportagem do Fantástico como responsável por nomeações sem critérios técnicos em hospitais federais.