Subestimar os gastos com benefícios previdenciários para mostrar um cenário cor de rosa das contas públicas tem sido uma prática comum para abrir margem para outras despesas no Orçamento sem comprometer a meta de resultado primário e os limites estabelecidos no novo arcabouço fiscal.
Este ano, pelo que tudo indica, a história se repete. Conforme matéria de Jéssica Sant´Ana e Marcelo Osakabe, publicada na quinta-feira no Valor, a previsão do governo de gastar R$ 914,2 bilhões com benefícios previdenciários neste ano está subestimada, segundo especialistas em contas públicas, consultorias, corretoras e bancos consultados. As projeções variam de, no mínimo, R$ 923 bilhões a R$ 932,5 bilhões, o que mostra que o cálculo do governo pode estar defasado entre R$ 8,8 bilhões e R$ 18,3 bilhões.
Apesar de estarmos vivendo momento econômico e político diferente, é sempre bom lembrar que a apresentação de projeções de despesas desconectadas da realidade não teve um final feliz no passado. Em 2014, o então ministro da Previdência, Garibaldi Alves, rebateu em entrevista ao Valor as projeções de déficit da área calculadas pela equipe do secretário do Tesouro Nacional à época, Arno Augustin. Era o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que sofreu um processo de impeachment após ser acusada de dar as chamadas “pedaladas fiscais”. Sempre bom recordar para não repetir os erros do passado.