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Em seu primeiro filme como diretora, Sandra Coverloni reencontra Daniela Thomas, com quem trabalhou em “Linha de Passe” (em que ganhou o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes em 2008), e Beto Amaral para registrar a memória de um lugar. Em “Diamantes”, os cineastas narram a vida de três mulheres que cresceram em São João da Chapada, uma vila no interior de Minas Gerais marcada pela extração de diamantes. O documentário está na competição nacional do 29° Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade, deste ano e divulga seu trailer oficial nesta quarta-feira (20).
Localizada no alto da Serra do Espinhaço, São João da Chapada tem uma cicatriz em sua paisagem que se confunde com as feridas de seus habitantes. A devastação da natureza e o trabalho hostil do garimpo atravessaram gerações e continuam vivos na memória da cidade. De maneira muito íntima, “Diamantes” documenta as lembranças de Sabrina (30 anos), Maria Helena Dias (50 anos) e Faraíldes (70 anos) e suas maneiras de sobrevivência à margem do falso progresso.
O projeto nasceu num trabalho de pesquisa feito em Diamantina e na busca, pelos diretores, por histórias interessantes nessa região – sobretudo de mulheres, que são pouco retratadas quando se pensa o audiovisual sobre o garimpo e seus desdobramentos. Eles logo conheceram Maria Helena Dias, a Mantega, que os cativou com o seu talento e revelou sua profunda relação com São João da Chapada e a violência sofrida no processo de se tornar adulta nesse ambiente. Suas histórias inspiraram o curta “De Volta”, realizado por Daniela Thomas a convite do cineasta chinês Jia Zhang Ke, para fazer parte do longa “Half the Sky”, produzido por Beto Amaral e tendo Sandra Corveloni como preparadora de elenco. Mantega protagonizou o filme.
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Ela foi o elo de confiança entre os cineastas e os moradores de São João, fazendo a ponte com as outras personagens. Faraíldes é a ex-diretora da única escola da Vila, onde Mantega e Sabrina estudaram. Já Sabrina é uma mulher lésbica dentro desse universo, que conta sua relação com a mãe e o machismo de São João da Chapada. Como revela Daniela Thomas, “ouvimos histórias de partidas e retornos, de feridas e curas, e especialmente, histórias de resistência e superação, nesse lugar profundamente marcado pelo patriarcalismo extrativista e escravagista que é nossa triste matriz”.
“Diamantes” é um filme que se constrói com a colaboração criativa de seus personagens. Trata-se de um projeto que busca dar espaço a mulheres que fascinam por sua capacidade narrativa exuberante, dentro da melhor tradição de cultura oral.